Venda de produtos ou serviços por condôminos aos vizinhos deve ser discutida em assembleia
A crise econômica tem feito muita gente se virar como pode para obter renda. Não é diferente em condomínios residenciais, onde moradores oferecem serviços e produtos aos vizinhos. Mas, para isso, é necessária a autorização dos demais condôminos que decidem em assembleia se autorizam ou não. Uma coisa é certa, só poderá exercer atividade econômica se isso não interferir nos custos condominiais rateados entre os moradores. Se a pessoa vai cozinhar, por exemplo, precisa consumir gás e água em separado a fim de não onerar o condomínio. Em Sorocaba, há condomínios de apartamentos e casas nos quais esse tipo de atividade é permitida, desde que não prejudique outros moradores e que não coloque em risco a segurança.
Essa troca de serviços e produtos entre moradores tem se tornado mais comum. Pessoas que fazem isso há um bom tempo são bem conhecidas da vizinhança e, ainda, acabam ultrapassando os portões dos condomínios para atender a outros clientes. Em vários condomínios é proibida essa prática, mas em razão da situação econômica existe tolerância maior. Tem moradores que vendem marmitex, sorvete, doces, água em galão, pacotes de viagem, seguros e prestam serviço de manicure, cabeleireiro, eletricista, entre outros. Há alguns condomínios que promovem, inclusive, feiras entre os moradores para venda de produtos e serviços.
No condomínio Vivendas de Sorocaba, no Jardim Gutierres, a última feira aconteceu há alguns meses e divulgou uma série de ações. Segundo a subsíndica, Miriam Nascimento Kraut, a chamada Feira de Talentos reuniu moradores que trabalham com pastel, churrasco, queijos e derivados, bolos, doces, salgados, frutas, verduras, legumes, lanches naturais, minipizzas, roupas, bolsas, lingerie, calçados, perfumes, agência de viagens, entre outros.
"Agora deu uma parada, mas em breve voltaremos com isso. É uma forma de o condomínio ajudar os moradores durante esse período mais difícil da economia do País", argumenta Miriam.
Há três meses, Simone Moreira da Silva faz marmitex em casa e distribui para 15 clientes que moram no condomínio. "Fiquei desempregada em fevereiro e como a gente já tinha trabalhado com marmitex antes, resolvi voltar a fazer", diz Simone, afirmando que o negócio está indo bem e que não pensa mais em voltar ao mercado formal de trabalho. Ela tem capacidade para até 30 marmitex por dia. "Mas se aumentar a demanda, vou ter de alugar um espaço para isso." Seguindo todos os cuidados sanitários, como usar luvas e touca, Simone não precisou de muita coisa para montar seu negócio e segue trabalhando.
Atividades variadas
Com 288 apartamentos e 700 moradores, o que não faltam nesse condomínio são atividades econômicas variadas. No saguão do condomínio, o desenvolvedor de jogos digitais Vitor Campioni conversava com o amigo de infância Igor Lopes Bete. Dessa vez, falavam sobre negócios. Vitor aluga um apartamento onde mantém uma agência especializada em marketing digital. "Sou eu e mais um amigo que trabalhamos na agência. Fazemos os contatos lá, porém nossos clientes são de fora", afirma o pequeno empresário, que também presta serviço em manutenção de notebooks. O amigo Igor acabava de contratá-lo para consertar um notebook. "Conheço ele como amigo, mas vou conhecer como profissional agora", brinca.
Igor comenta que a mãe Roseli Lopes Bete também trabalha no condomínio. Ela tem uma clínica de depilação, limpeza de pele, massagem e drenagem linfática há pelo menos 14 anos. "Tem muitas clientes e são daqui do prédio mesmo", conta ele, lembrando que ex-moradoras continuam como clientes da sua mãe.
Atividades devem respeitar regras
Atualmente, Sorocaba congrega mais de 3 mil condomínios residenciais horizontais e verticais e, em razão desse número considerável de moradias, as comunidades acabam sendo bem diversificadas. A observação é do proprietário da Pact Condomínios, Tiago Prado, que trabalha no ramo há mais de dez anos ao lado de um irmão, atendendo condomínios em Sorocaba e região.
Segundo ele, o comércio não é recomendável nos condomínios, mas as assembleias são as responsáveis por autorizar ou não determinado tipo de comércio. "Tem de se ter cuidado com a segurança dos moradores. Não se pode também, por exemplo, num lugar em que se rateia o gás, um morador cozinhar para fins comerciais, pois os demais irão pagar pelo consumo daquele", observa Tiago, destacando que há legislação que regula as atividades variadas em condomínios, como horário e tipo de atividade. "Nem tudo pode ser feito", informa. Ele recomenda cautela, pois infrações à leis condominiais geram multas.
Seguindo todas essas regras, o artista Edson Soares já decorou com quadros diversas casas de vizinhos no condomínio Ibiti Royal Park. Mora no local há seis anos e meio, onde mantém um ateliê, realizando projetos em tela conforme o ambiente das residências. Abstratos, paisagens, retratos e afrescos são produzidos por ele na própria casa. "Construí aqui para justamente fazer o ateliê e, apesar da crise, felizmente as coisas estão caminhando, não como em outros anos, pois este ano foi bastante difícil, está sendo difícil, mas em outros anos foi muito bom", comenta.
Edson Soares trabalha com arte plástica há 15 anos. Morava em São Bernardo do Campo. Em Sorocaba, ficou por um ano em casa alugada e quando terminou a obra no condomínio fechado mudou-se com a família: esposa e dois filhos. "Eu vivo da arte todo esse tempo. É o que eu sei fazer!", afirma Edson, que também é carateca faixa preta terceiro dan. Ele já expôs quadros em museus de outros países. Disse que não houve problemas com o condomínio, uma vez que a atividade dele não interfere no dia a dia dos demais moradores.