Condomínio do momento

UOL visita a Vila dos Atletas e experimenta o prazer da vida em condomínio

Do sexto andar vem um grito incompreensível. Todo mundo que passa embaixo olha para cima. Na varanda do apartamento, adornado com a bandeira do Azerbaijão, um sujeito está falando algo, aos berros, para um compatriota, no térreo, que responde gritando, igualmente.


A cena poderia ter ocorrido em um condomínio qualquer, mas este é especial. Trata-se da Vila Olímpica, um conjunto de 31 edifícios de 17 andares, preparado para receber cerca de 18 mil pessoas, entre atletas e membros das delegações dos 207 países que participarão da Rio-2016.

Excepcionalmente, nesta quinta-feira (4), o condomínio foi aberto para a visitação de um pequeno grupo de jornalistas. É uma visita sem guia. Cada um pode ir para onde quiser e entrar onde for aceito.

É fácil saber onde estão hospedadas as delegações. Os países exibem, orgulhosos, bandeiras e faixas na fachada dos prédios. Apenas dois países se escondem, sem identificação visível – os Estados Unidos e a Coreia do Norte.

O repórter do UOL circulou pelas áreas públicas. O clima é muito semelhante ao de outros condomínios na Barra da Tijuca, com a diferença que habitado por atletas de ponta. Assim, é possível ver um quimono azul pendurado na varanda do prédio da Coreia, cruzar com uma espanhola que carrega o florete na mão, sem susto, ou ver um búlgaro comendo pastel em um banco.

O restaurante principal está em uma tenda de 27 mil metros quadrados. Tem capacidade para atender até 5 mil clientes ao mesmo tempo e oferece cinco cardápios diferentes: culinária asiática, “sabores do mundo”, “o melhor do Brasil”, “pizza e pasta” e comidas halai e kosher (realizadas segundo as restrições do islamismo e do judaísmo, respectivamente).

O principal ambiente para diversão dos atletas, se é que se pode chamar assim, é a gigantesca academia de ginástica que ocupa um naco da avenida principal. O espaço conta com equipamentos de última geração, que permitem aos atletas terem os seus desempenhos acompanhados à distância por seus treinadores.

Dentro dos prédios, algumas delegações oferecem pequenos confortos adicionais aos atletas. Na Casa Brasil, por exemplo, há três aparelhos de TV, uma sala de estar e uma sala com videogames para os atletas. Nos quartos, não há TVs.


A "divisão de classes" é visível na Vila. Esportistas de delegações menores não dispõem destes “luxos”.
Entre o restaurante e a academia, estrategicamente localizado, fica a “policlínica”, um pronto-socorro para atender a clientela que não dispõe dos próprios serviços médicos.

Vários prédios dispõem de piscinas, mas o tempo no Rio, nesta quinta-feira, não estava convidativo. Vi muitos atletas passeando de bicicleta pela área comum. Ao longo de todo o condomínio há ciclovias, mas faltam bicicletários. Cada delegação é responsável pelas suas bicicletas.

Um parque, com laguinhos artificiais, é outro ponto turístico da Vila. Ali fica uma escultura, com os anéis olímpicos e o 2016, símbolo dos Jogos. Atletas fazem fila para tirar fotos diante da peça.

Os prédios do condomínio são batizados com nomes como “Apoteose”, “Arcos da Lapa”, “Dois Irmãos” e “Pedra da Gávea”. Parte dos imóveis já foi vendida e será ocupada por seus verdadeiros donos depois dos Jogos.

A calma (ou tédio) do ambiente foi quebrada, nesta tarde, pela visita de algumas autoridades. Sempre acompanhados de muitos seguranças, os presidentes da França (François Hollande) e da Georgia (Giorgi Margvelashvili), além do secretário-geral da ONU (Ban Ki-moon) passearam pelo local, lembrando que aquele não é um condomínio qualquer.

Junto ao complexo há, ainda, um anexo, chamado “Zona Internacional”. Este espaço serve para os atletas se encontrarem com jornalistas, patrocinadores e familiares. Neste espaço, a maior atração é um McDonald´s, que serve lanches de graça. As filas são sempre enormes. Há, ainda, uma loja oficial, um mercado, correio e lavanderia.

Consta que também há “pokemóns” na Vila Olímpica. Mas não vi nenhum atleta os caçando esta tarde.