Coleta seletiva: como implementar um programa eficaz em condomínios

Separar o lixo gera economia, contribui com o meio ambiente e promove conscientização entre os moradores

Por Ana Sachs

A coleta seletiva é um ponto muito importante na preservação do meio ambiente, e cabe a cada indivíduo trabalhar para que esses sistemas sejam uma realidade no Brasil, e não uma exceção. Quando moramos em um condomínio – seja de casas, seja de apartamentos –, a implementação da separação do lixo depende do coletivo.

O primeiro passo é garantir que a coleta seletiva seja aprovada em assembleia. "A resistência inicial é comum, pois há a necessidade de investir em infraestrutura, possível alteração na rotina dos funcionários, mudanças no regimento interno, etc. Mas os resultados dos primeiros meses geralmente convencem até os mais céticos", compartilha Victor Faria, especialista em sustentabilidade e diretor da Contelurb, empresa de coleta mecanizada e conteinerização de cidades.

  • Para assegurar a aprovação do sistema, ele dá algumas dicas:
  • Mostre fotos do antes e depois de outros condomínios;
  • apresente depoimentos curtos em vídeo de síndicos que implementaram com sucesso;
  • demonstre cálculos simples sobre custos e potenciais benefícios;
  • ofereça uma proposta de teste por tempo determinado.

Por que fazer a coleta seletiva?

A coleta seletiva consiste na separação e no ecolhimento dos resíduos conforme a sua composição: recicláveis (papel, plástico, vidro e metal), orgânicos (restos de alimentos) e rejeitos (lixo não reciclável).

"Ela [coleta seletiva] ajuda a reduzir a quantidade de lixo enviado aos aterros, possibilita a reciclagem dos resíduos, pode gerar economia para o condomínio, contribui com o meio ambiente e ainda promove conscientização ambiental entre os moradores", destaca Camila Bagni de Assis Garcia, advogada e supervisora da OMA, empresa especializada em administração condominial.

Segundo Victor, a separação evita a contaminação dos materiais reaproveitáveis, aumentando seu valor e as possibilidades de reciclagem. "Diferente da coleta convencional, que mistura todos os resíduos, a seletiva é o primeiro passo para dar uma destinação adequada aos materiais que podem retornar à cadeia produtiva", aponta.

Separação por cores

No Brasil, a coleta seletiva usa um sistema de cores padronizado para identificar o tipo de material a ser descartado, conforme estabelecido pela Resolução CONAMA nº 275/2001.

As principais cores são:

  • Azul: papel e papelão;
  • Vermelho: plástico;
  • Verde: vidro;
  • Amarelo: metal;
  • Marrom: resíduos orgânicos;
  • Preto: madeira;
  • Branco: resíduos de serviços de saúde;
  • Laranja: resíduos perigosos;
  • Roxo: resíduos radioativos;
  • Cinza: resíduos não recicláveis ou contaminados.

Passo a passo para a coleta de lixo seletiva em condomínios

Conforme Victor, o melhor caminho é começar de forma simples e ir evoluindo o sistema de coleta. "Pode-se iniciar apenas separando o que é reciclável do que não é, usando contentores diferentes. À medida que todos se acostumam, é possível refinar o processo", destaca.

Lixeiras bem posicionadas, informações claras sobre o que vai em cada uma e feedback regular sobre os resultados obtidos fazem a diferença. "É preciso envolver os moradores, treinar os funcionários, definir local adequado para instalação de coletores apropriados e firmar parceria com cooperativas ou empresas de reciclagem", orienta Camila.

Segundo Victor, o erro mais comum é querer implementar um sistema complexo de uma única vez e acabar desistindo diante dos primeiros obstáculos. Por isso, vale adotar uma abordagem gradual:

  • Comece observando: antes de comprar equipamentos, verifique por duas semanas quanto lixo o condomínio gera e de que tipo;
  • Planeje com simplicidade: no início, apenas dois tipos de separação já fazem a diferença: recicláveis e não recicláveis;
  • Busque parceiros: descubra quem pode coletar seus recicláveis antes de iniciar o processo;
  • Faça um teste piloto: comece com um bloco ou alguns andares para ajustar o sistema;
  • Comunique de forma prática: em vez de longos textos, use imagens que mostrem exatamente o que vai em cada lixeira.
  • Dica extra: o dia mais crítico tende a ser a segunda-feira, após o final de semana, período em que, geralmente, não há coleta e o lixo acumula. O dimensionamento da quantidade de resídueos gerada pelo condomínio deve ser feito com base neste dia.

Espaço físico para as lixeiras

Camila explica que o ideal é ter um local adequado, com ventilação, coberto e de fácil acesso para instalar as lixeiras apropriadas e devidamente identificadas. "Ele deve ser exclusivo para armazenar temporariamente os resíduos recicláveis de forma organizada e segura até o momento da coleta", afirma.

O dimensionamento do espaço depende do número de unidades do condomínio e da frequência da coleta. "Para condomínios menores, às vezes é possível adaptar áreas existentes, como parte da garagem ou um espaço ao lado do depósito de lixo comum, desde que esteja devidamente sinalizado e separado", ensina Victor.

Segundo ele, o tamanho do espaço necessário é menor do que se imagina, especialmente se a coleta for frequente. "Um condomínio de 50 apartamentos pode se virar bem com uma área de 6 a 8 m², desde que bem organizada com contentores adequados", diz.


Como é feita a coleta seletiva no dia a dia

Dentro da casa ou do apartamento, o morador é o responsável pela separação inicial do lixo. Para isso, basta ter dois recipientes diferentes. A segunda etapa da coleta seletiva envolve os funcionários do condomínio, que cuidam da organização dos materiais nas lixeiras.

"Não é um trabalho adicional significativo, apenas uma reorganização do que já fazem. Na prática, após a implementação do sistema, o trabalho pode até diminuir, pois o lixo passa a ficar mais organizado", destaca Victor.

Muitos condôminos temem custos adicionais, mas a verdade é que, na maioria dos casos, não é necessário gastar mais, garante Victor. "O serviço público já coleta recicláveis em muitas cidades, basta descobrir os dias e horários para o seu endereço. Uma simples ligação para a prefeitura resolve isso", explica Victor.

Além da coleta municipal, outros caminhos são as cooperativas ou empresas contratadas. "As cooperativas de catadores são uma excelente alternativa. Elas costumam coletar gratuitamente, porque têm interesse no material, e você ainda contribui para gerar trabalho e renda", aponta Victor.

Já as empresas especializadas geralmente só são necessárias para condomínios muito grandes ou com necessidades específicas. "A contratação pode ser um facilitador, uma vez que elas oferecem suporte, algumas, inclusive, disponibilizam os recipientes para depósito dos resíduos, além de promover treinamentos constantes e garantirem a destinação correta dos materiais", diz Camila.