SP: Casos recentes chamam atenção para riscos em condomínios antigos
Na madrugada da última sexta-feira (25), o Corpo de Bombeiros controlou um incêndio em um prédio ocupado irregularmente na região central de São Paulo, as chamas teriam surgido em motocicletas estacionadas no local e deixaram sete feridos. Este foi o quarto incidente recente envolvendo chamas em construções históricas e áreas urbanas densas da cidade.
Eventualidades como essa destacam o risco adicional que sistemas de combate a incêndio antigos e obsoletos representam para moradores e visitantes de prédios históricos, devido a padrões de construção concebidos antes das normas vigentes, acrescidos do fato de terem instalações elétricas antigas ou mal dimensionadas para as demandas de carga atuais, e o uso de materiais que hoje seriam considerados inadequados.
"A fiação elétrica envelhecida, por exemplo, é um grande risco, pois o desgaste dos isolamentos aumenta a chance de curtos-circuitos. Além disso, o uso de materiais inflamáveis, como madeiras sem tratamento ou isolamentos de papel e fibra, era comum, facilitando a propagação por qualquer ignição, como uma simples faísca", explica Eduardo Zangari, engenheiro civil e vice-diretor da Associação das Administradoras de Bens, Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC).
Esse foi o caso do Edifício Copan, marco arquitetônico do centro paulistano que precisou ser evacuado às pressas no início de outubro após chamas atingirem as juntas de dilatação revestidas com papelão, prática comum nas construções mais antigas devido ao preço acessível do material. Em entrevista ao Uol, o síndico do complexo, Affonso Celso, atribuiu a causa do incêndio a uma reforma.
Embora existam exigências mínimas para segurança, como extintores e hidrantes, alguns condomínios ainda resistem a adotar as adequações necessárias para melhorar a proteção contra incêndios devido ao alto custo.
"Muitas adaptações exigem investimentos significativos, e nem sempre os moradores estão dispostos a arcar com esses gastos, especialmente porque as pessoas nunca acreditam que isso ocorrerá com elas, dado a baixa incidência de casos que ganham publicidade", reforça Zangari.
Segundo ele, a complexidade de algumas obras, como o fechamento com alvenaria de alguma circulação e instalação de portas corta-fogo, obstruindo a colocação de lixeiras no hall, também podem gerar resistência.
Outro fator é cultural. "Por ser algo imposto pelo governo, nos remete a mais uma obrigação que não enxergamos benefício. E, essa situação é potencializada por se tratar de um investimento que talvez jamais se perceba de maneira tangível o valor, igual um seguro que você nunca usou", complementa o engenheiro.
Ainda assim, a modernização de condomínios antigos não pode ser postergada por muito tempo, afinal o que está em jogo é a vida dos condôminos e a responsabilidade civil do síndico.
Modernização de sistemas de combate a incêndio: como funciona?
De acordo com o especialista consultado pelo SíndicoNet, a modernização deve começar por uma análise completa da estrutura existente, através de uma vistoria especializada que avalie não apenas o sistema de combate à incêndio de característica passiva (como portas corta-fogo e sinalização) e os sistemas de combate ativo (extintores, hidrantes e sprinklers), mas também outros sistemas prediais relevantes como as instalações elétricas e de descargas atmosféricas.
Além disso, deve-se analisar também processos daquele edifício, como manutenção de lixeiras na rota de fuga e portas corta-fogo mantidas abertas, pois não existe sistema funcional com uso inadequado. Com base nessas informações, deve-se efetuar um projeto para aprovação perante o corpo de bombeiros e, uma vez aprovado, efetuar as obras de adequação.
A periodicidade ideal depende do tipo de sistema e da idade da edificação, mas, de forma geral, recomenda-se que seja realizada uma inspeção anual para verificar o estado dos sistemas de segurança contra incêndio, pois se trata de sistemas de missão crítica, ou seja, os mesmos devem funcionar quando demandados. Já sistemas de alarmes e detecção devem ser revisados anualmente, enquanto fiações e sistemas estruturais devem ser reavaliados a cada 5 anos ou em casos de reformas significativas.
"Essa manutenção periódica ajuda a garantir que todos os equipamentos e sistemas estejam funcionando corretamente e estejam em conformidade com as normas vigentes", orienta Zangari.
Também é recomendado que zeladores e gerentes prediais garantam mensalmente que luzes de emergência, sinalização e portas corta fogo estejam adequadas, pois estes são os recursos mínimos necessários para garantir o abandono seguro da edificação.
Em reformas ou manutenções, é essencial avaliar as juntas de dilatação e substituí-las por materiais mais seguros, além de isolar adequadamente áreas de trabalho para evitar propagação de faíscas ou calor que possam ativar esses pontos.
Para evitar casos como o que deu início a esta matéria, o síndico deve se atentar a ter sempre uma garagem bem ventilada, com uma infraestrutura de segurança que inclua no mínimo hidrantes e extintores específicos e, principalmente, rotas de fuga adequadas.
Inovações em equipamentos que valem a pena conhecer
Questionado sobre novas tecnologias que valem a pena serem exploradas, Zangari destacou os sistemas de monitoramento remoto, que permitem a detecção precoce de fumaça e variações de temperatura. Com sensores inteligentes e interligados, eles podem detectar anormalidades e enviar alertas em tempo real via aplicativos, permitindo uma resposta rápida.
Outra inovação importante é o uso de sprinklers inteligentes, que identificam a necessidade de ativação em áreas específicas, reduzindo danos e controlando o fogo de maneira mais eficiente.
"Lamentavelmente, nem tudo ainda está disponível no mercado brasileiro, mas é importante esse tipo de publicação para que nossos síndicos e administradores comecem a buscar esse tipo de solução a fim de que a demanda justifique que as empresas tragam esse tipo de inovação", ressalta o vice-diretor da AABIC.