Investigações apontam que condomínios onde moram famosos, como Ivete Sangalo e Bell Marques, já foram invadidos pelos criminosos
A Polícia Civil do Espírito Santo identificou integrantes de uma quadrilha especializada em invadir apartamentos de luxo em vários estados do país. Os suspeitos têm de 18 a 41 anos.
Vídeos de momentos em que integrantes do grupo entraram em condomínios e saíram com objetos furtados e roubados de imóveis na Grande Vitória foram divulgados nesta terça-feira (19) pela polícia.
Último caso
Uma jovem que, segundo a polícia, fazia parte do grupo, foi presa no último sábado (16). Um vídeo mostra o momento que a paraguaia Tamara Romina Ramos Dimas, de 18 anos, e um comparsa, invadiram um apartamento no bairro Mata da Praia, em Vitória, depois que ela entrou ao se passar por moradora.
Eles arrombaram a porta de um apartamento e torturam uma mulher de 59 anos e a mãe dela, de 97.
Ao todo, foram roubados R$ 30 mil em joias, 20 mil dólares, 20 mil euros e R$ 10 mil em espécie. Tamara acabou presa e foi autuada por tentativa de latrocínio e tortura. Ela também tinha mandado de prisão em aberto pelo roubo a um apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro.
O homem que aparece com a jovem no vídeo e um que dava apoio fora do condomínio conseguiram fugir, mas já foram identificados pela polícia.
De acordo com o delegado Gianno Trindade, foram identificados 11 integrantes do grupo criminoso e oito deles já foram denunciados.
Os suspeitos denunciados que tiveram as imagens divulgadas nesta terça são Emanoelle Borges da Silva, de 19 anos; Lucas Gentilcore Almeida, de 20; Maurício Gomes de Oliveira, de 23; Maycon Gomes de Oliveira, de 18; Vitor Elias Said, de 22; Elysson Oseias Magalhães de Souza, de 35; Valter Alves da Silva Junior, de 41; e Celso Alves da Rosa Junior, de 33.
Segundo a Polícia Civil, alguns já estão presos.
Até a última atualização deste texto, a reportagem não havia obtido contato com os citados ou as defesas deles.
Crimes em vários estados
Além do ES e do RJ, as investigações apontaram que os integrantes do grupo estão envolvidos em invasões a condomínios de São Paulo, Bahia, Minas Gerais. O grupo também teria invadido condomínios onde moram famosos, como Ivete Sangalo e Bell Marques.
"Temos relatos de condomínios na Bahia de cantores famosos, de artistas, no Rio de Janeiro e essa menina de sábado teria participado de um furto na região de Copacabana", disse o delegado.
O delegado disse ainda que os criminosos são especializados em furtos, mas muitas vezes entram em apartamentos com os moradores e, quando fazem isso, são violentos.
Um dos casos foi a invasão a uma cobertura no ano passado, em Vitória, quando uma grávida foi agredida com uma chave de fenda. No caso do último sábado, também em Vitória, eles entraram porque tocaram a campainha e ninguém abriu.
"O que impressiona é que quando evolui para o roubo eles são extremamente agressivos. No caso do Vitória Bay eles agrediram a grávida e ordenaram que a mãe a amarrasse. No caso de sábado foram feitas várias ameaças com a chave de fenda, e para obter informações, passaram a torturar os moradores até conseguirem as informações que queriam. O porteiro que deteve a mulher foi agredido e ficou ferido na região da barriga", explicou o delegado.
Dados das vítimas eram obtidos pela internet
Segundo o delegado Gianno Trindade, as investigações apontaram que desde 2020 a quadrilha vem agindo e que cada membro tem funções pré-estabelecidas de forma hierárquica.
"Eles selecionam as vítimas por meio de dados que hoje podem ser acessados pela internet por meio de sites específicos e bancos de dados adquiridos na dark web, furto de hackeamento. Alguns contém nossa foto e assinatura, onde você mora, qual carro e empresa você tem. Infelizmente esses dados podem ser consultados pela internet. Estamos falando de uma nova forma de agir, que não seria aquela forma da "fita dada", informação que partiu de uma empregada, um funcionário ou algum prestador de serviço. Eles já fazem essa pesquisa antes dos crimes, já chegam ao condomínio com três, cinco alvos", disse o delegado.
Acesso aos condomínios
Para acessar os condomínios, os criminosos costumam se aproveitar de erros da portaria, segundo o delegado.
"Sempre eles agem em três indivíduos, um se apresenta à portaria, o outro tenta entrar, após o primeiro entrar e o terceiro fica do lado de fora. Simplesmente se apresentando como morador. Percebemos no caso da prisão da menina no sábado que foi dessa forma. Não houve questionamento sobre quem seria essa menina, ela simplesmente entrou", disse.
Outra forma de entrar no condomínio encontrada pelos criminosos é ligar para a portaria se passando pelo dono do imóvel.
"A pessoa se apresenta, o comparsa liga já se passando por um morador que realmente mora naquele edifício permitindo a entrada daquele que seria seu parente", informou o delegado.
Para ter certeza que não tem ninguém em casa, um dos integrantes fica perto da porta do apartamento enquanto o que está do lado de fora do condomínio faz uma ligação. O criminoso fica ouvindo a porta para ver se o morador vai atender.
"Se atender, eles desistem, porque querem ficar na seara do furto. Quando não atendem, eles acreditam estar vazio e arrombam com uma chave de fenda de 25 centímetros e permanecem por cerca 20 minutos levando altos valores dos moradores que eles previamente já tinham escolhido. A predileção é por árabes, orientais, portugueses e judeus por historicamente guardarem altas quantias em suas residências", contou.
Orientações da polícia
O delegado Gianno Trindade falou sobre a importância do reforço na segurança e também de seguir as regras dos condomínios.
"O morador nunca deve violar o regimento interno do seu edifício. Alguns impedem que o morador libere o acesso pelo telefone. Importante ressaltar que o porteiro ou o funcionário sempre confirme com o morador se aquela pessoa realmente está autorizada a entrar em sua residência", orientou.
Outras ferramentas que, segundo o delegado, podem impedir a entrada de criminosos são a biometria, o reconhecimento facial e câmeras com sensor de movimento.