Condomínio do ?Minha casa, minha vida? volta a sofrer com ação de milicianos na Zona Oeste do Rio
O Domingo de Páscoa foi marcado por uma visita indesejada no Condomínio Trento, em Cosmos, na Zona Oeste do Rio. Erguido com recursos do programa “Minha casa, minha vida”, o conjunto — que já foi palco de diversas ações policiais contra milícias — recebeu, naquela tarde, um grupo de seis pessoas, que convocaram os moradores para uma reunião no salão de festas. Em pauta, regras de convivência e um aviso: a cobrança dos R$ 40 da “taxa de condomínio”, até então com alta inadimplência, passaria a ser feita de porta em porta. “Agora a parada é nossa, não vai ter bagunça nem caô”, assegurou um deles.
Até a chegada dos invasores, divididos em um carro preto e uma motocicleta — não era possível ver armas — , os moradores do conjunto não tinham notícias de grupos paramilitares há pelo menos um ano. No dia seguinte à reunião, veio a primeira amostra das normas recém-impostas. Duas vizinhas se desentenderam e iniciaram uma confusão. Minutos depois, dois homens chegaram de moto e apartaram a briga, puxando ambas pelos cabelos.
— Falaram logo que, se não parassem, iriam quebrar todo mundo. Também já avisaram que aqui não pode mais ter som alto nem festa depois das 22h — relata um morador, dizendo-se com medo e pedindo anonimato.
Draco não recebeu denúncia
O grupo que estaria tentando assumir o controle do conjunto seria oriundo da comunidade da Gouveia, em Paciência, conhecido reduto de milicianos. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), porém, não recebeu, recentemente, denúncias sobre a atuação de paramilitares no condomínio.
— Checamos informações sobre conjuntos do “Minha casa, minha vida” constantemente, e atuamos no combate a esses grupos também em outros locais. Um dos pontos centrais é reprimir o porte ilegal de arma, pois é assim, muitas vezes, que se dá a intimidação — explica o delegado Alexandre Herdy, titular da especializada.
Domínio total
Após três meses de apuração, o EXTRA começou a publicar, em março do ano passado, a série de reportagens “Minha casa, minha sina”. Na ocasião, foi revelado que todos os 64 conjuntos do programa na cidade do Rio destinados aos beneficiários mais pobres — a faixa 1 de financiamento — sofriam com a ação de traficantes e milicianos.
Quase 20 mil famílias
À época, 18.834 famílias viviam nesses condomínios. Elas eram submetidas a situações como expulsões, reuniões de condomínio feitas por bandidos, bocas de fumo em apartamentos, interferência do tráfico no sorteio de moradores, espancamentos e até homicídios. Mais de 200 pessoas foram ouvidas na produção das reportagens.
Operação Tentáculos
Só na Zona Oeste, eram 38 conjuntos submetidos ao domínio de milícias. Sete meses antes, na Operação Tentáculos, a Draco havia prendido 21 pessoas suspeitas de ligação com grupos paramilitares que atuavam em seis condomínios do programa na região — três em Campo Grande e três em Cosmos, incluindo o próprio Trento.