Residentes do Edifício Mondo iniciaram o modelo há cerca de dois meses. Em 30 dias, meia tonelada de resíduos orgânicos foram recolhidos
Trinta e duas famílias que residem no Edifício Mondo, na 103 do Noroeste, estão colaborando com o novo projeto de compostagem de resíduos orgânicos adotado pelos gestores do residencial há cerca de dois meses, durante o período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.
Em julho deste ano, com a maioria dos moradores do prédio em suas casas por causa da quarenta e produzindo maior quantidade de resíduos, a gestão do edifício resolveu contratar uma empresa responsável por projetos de recuperação ambiental, a 4 Hábitos Para Mudar o Mundo, para desenvolver o sistema de compostagem no local.
Com todos os moradores de acordo com o modelo proposto, já no primeiro mês da iniciativa o edifício recolheu 550kg, ou meia tonelada, de resíduos orgânicos produzidos nas unidades residenciais.
A técnica usada no condomínio do Noroeste é o chamado método lajes de compostagem. Caixotes de madeira ecológica – como pinus – com grades de tela e furados guardam o resíduo orgânico, coberto com pó de serragem. O líquido gerado escorre diretamente no solo, enquanto o composto seco é distribuído no jardim do condomínio, entre 20 e 30 dias após o início do processo.
Por meio do projeto, uma lixeira pequena foi entregue em cada apartamento que aderiu ao projeto-piloto. Uma vez por dia, os funcionários recolhem o material, que é levado às composteiras e, por já estar separado, ajuda a diminuir o trabalho de coleta.
Sonho realizado
Subsíndica do Mondo, a professora Ângela Regina Chaves Café, 59 anos, diz ter decidido se mudar para o Noroeste porque a região já era conhecida pela preocupação com a sustentabilidade. O Noroeste é considerado um bairro verde do DF.
“Eu já havia sugerido o modelo há um ano, mas, à época, não vingou. Neste 2020, vimos a quantidade de resíduos aumentar com as pessoas dentro de casa durante a pandemia. O nosso síndico descobriu que na convenção do edifício já era obrigatório regras de separação de lixo e conseguimos contatar a empresa que está fazendo a assessoria do lixo zero”, explicou.
“É muito simples. Se você separa na origem, ou seja, na nossa cozinha, isso ajuda o todo. Recicladores, economia local e natureza”, defendeu.
O servidor público e síndico do prédio, Daniel Maia Vieira, 37, reconheceu a importância do projeto e aceitou a proposta.
“Percebemos que os nossos contêineres estavam ficando lotados e, em alguns momentos, não havia mais espaço. Com o cenário preocupante, fizemos contato com essa empresa que inicialmente realizou uma gravimetria para a análise dos nossos resíduos. Constatamos que 53% do lixo gerado era orgânico”, detalha. “Foi quando surgiu a proposta da compostagem com a vertente de conscientização dos moradores”, comentou o síndico.
De acordo com Daniel, o modelo também está gerando um benefício ambiental e financeiro para o condomínio. “Os restos de comida são cobertos com matéria orgânica seca e serragem, que reduz o cheiro ruim. Depois de 20 a 30 dias, o material está pronto para ser usado como adubo no nosso jardim. Também vamos pensar em fazer uma horta coletiva para os moradores”, garantiu.
Agora, o desejo do síndico é ter o apoio do Governo do Distrito Federal (GDF) para normatizar a permissão para esse tipo de iniciativa, pois, segundo ele, ainda há inseguranças jurídicas sobre a prática.
“Sabemos que, para qualquer tipo de instalação em espaços públicos a gente precisa de autorização. Estamos sujeitos à resistências naturais. Então gostaríamos de estar respaldados pelo Poder Público”, concluiu o síndico do Edifício Mondo.
Apoio de Sarney Filho
Ao Metrópoles, a Secretaria do Meio Ambiente do Distrito Federal informou que o secretário da pasta, Sarney Filho, visitou o prédio no Noroeste para conhecer a proposta na última terça-feira (15/9) e determinou a criação de uma força-tarefa envolvendo órgãos e entidades do GDF para avaliar experiências e propor a criação de um dispositivo legal para dar segurança jurídica a projetos de compostagem descentralizada de resíduos.
“Eu me comprometo a dar apoio integral ao projeto. Em um mês, esperamos reunir dados e informações para garantir que o GDF apoie iniciativas dos cidadãos em prol do meio ambiente e formalize a regulamentação para dar a tranquilidade almejada por quem está à frente de ações como esta”, disse Sarney.
O secretário sugeriu que o próximo passo do condomínio seja a criação de uma horta comunitária. “Dentro desses tipos de alternativas, gosto muito da ideia da criação das hortas, também muito oportunas em uma cidade verde como Brasília”, acrescentou.
O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) informou que também participou da visita técnica ao local, na última terça-feira. “Ainda estão em andamento as tratativas sobre o assunto”, diz trecho da nota encaminhado pelo órgão ao Metrópoles.
O diretor-adjunto do SLU, Rômulo Barbosa, porém, adiantou que a iniciativa dos moradores é louvável. “Não cabe apenas ao setor público [cuidar da destinação do lixo]. A geração e o gerenciamento de resíduos exigem envolvimento da sociedade. Vamos validar o projeto e, inclusive, incentivar que seja levado para outros espaços do DF”, afirmou.