Gestão participativa

Em Águas Claras, projeto coloca crianças para cuidar de condomínio e propor melhorias

 

Uma iniciativa está fazendo a cabeça dos pequenos moradores do condomínio La Belle Maisson Personnalisée, em Águas Claras. É o projeto Síndico Mirim, que visa incentivar crianças e adolescentes vizinhos a cuidar de seu patrimônio e desenvolver espírito de coletividade.

Um dos candidatos, Gabriel Elias, nove anos, está entusiasmado. “Eu mal posso esperar. É muito interessante participar porque vou ajudar o condomínio, dar exemplo e compartilhar minhas experiências”, ressalta.

A disputa segue acirrada entre irmãos. Julio Cesar Bohn Nobre, oito anos, luta pela posição. “Quero ser eleito porque adorei a ideia, vai nos tornar mais responsáveis”, comenta. A irmã, Sophia Bohn Nobre, dez anos, acredita que a oportunidade lhe trará mais responsabilidade.

“Serei mais atenta às normas, além de ajudar o síndico a manter bom relacionamento com as pessoas e a conservar o que nós temos”.

O síndico e idealizador do projeto é Joacyr Costa Pinho. Ele conta que a ideia surgiu há cerca de um mês após perceber a quantidade de crianças que brincam e interagem nas áreas de lazer do prédio. São cerca de 130 pequenos. Ao todo, cem se inscreveram.

“Vemos a situação de corrupção enfrentada pelo País e pensamos que estamos sem rumo. Porém, percebi que as crianças podem ajudar e têm um importante papel na sociedade. A criança tem diferentes pontos de vista e pode fazer o adulto mudar de comportamento”, afirma.

Segundo ele, as brigas no edifício durante as reuniões de condomínio eram frequentes e, em um dos casos, o síndico anterior quase foi agredido fisicamente por um morador que ficou enfurecido após ficar preso em um elevador.

“Levar os pequenos às reuniões para participar com os pais evita brigas e xingamentos. Tudo é na base da conversa, da conciliação. Quando tem criança envolvida, os pais têm mais cuidado. Em contrapartida, elas poderão opinar e contribuir para a melhoria do próprio espaço”, relata Pinho.

Todos podem viver a experiência

Segundo o síndico e idealizador do projeto, Joacyr Costa Pinho, o prazo de dois meses para a criança mais votada ser a síndica se justifica para que todas tenham a chance de viver a experiência. O ganhador receberá uma caderneta para anotar o que ocorre nas imediações do prédio e, caso anote por três vezes o nome de uma criança que infringiu as regras, ela não poderá participar da próxima eleição.

Pinho destaca que as funções exercidas pelas crianças não são iguais aos de um síndico, com as partes burocráticas e administrativas: “Por serem crianças, elas desenvolverão a atividade no horário de lazer e conscientizarão adultos e crianças, além de ajudarem na fiscalização e preservação do local. Escutaremos as melhorias propostas por elas, e essa contribuição será discutida em assembleias e votada para um condomínio melhor”.

Ele acrescenta que muitas ideias já foram implementadas com a ajuda das crianças, como as luzes de LED no prédio para economizar energia, projeto de placas educativas sobre a dengue e higiene dos animais domésticos e informativos sobre lixo reciclável e uso consciente de água.

A moradora Luziania Xavier de Almeida, 45 anos, é mãe de Samuel, nove anos. O filho é autista e, para ela, o projeto está mais do que aprovado. “O meu filho não fala e não pode lutar pelos interesses dele nas áreas de lazer, como a preservação do parquinho e da piscina. Com o síndico mirim, ele terá um representante. Todos os condomínios deveriam aderir. A criança é contagiante no que acredita, além de se tornar uma multiplicadora”, observa.

Como participar do projeto

Para participar, o candidato deve ter de sete a 15 anos e residir no condomínio. A assembleia para votação do síndico mirim será amanhã, a partir das 16h30. Serão exibidos slides e distribuídas cartilhas com direitos e deveres baseados nas normas do condomínio. O nome de cada criança participante será colocado em uma urna, e três serão sorteadas. A mais votada será eleita síndica por dois meses. O ganhador recebe como prêmio um livro ou brinquedo no valor de até R$ 100.