Em julho de 2016, três lajes do condomínio desabaram, matando um porteiro. Por segurança, os moradores tiveram de deixar seus apartamentos

Depois de três anos, 161 famílias começam a retornar para o edifício Grand Parc Residencial Resort, na Enseada do Suá, em Vitória, onde parte da área de lazer desabou, em 2016, e matou uma pessoa e deixou outras três feridas. No início de abril, a construtora Cyrela, responsável pelo empreendimento, anunciou a previsão de retorno dos moradores para setembro.

Ao todo, 166 famílias tiveram de deixar o condomínio, por medida de segurança. A construtora conseguiu chegar a um acordo com 161 famílias. As outras cinco ainda estão com ações na Justiça contra a empresa. De acordo com a construtora, a família do porteiro Dejair das Neves, que morreu no desabamento, também recebeu indenização, mas o valor não foi divulgado.

Uma das famílias que retornou ao condomínio, nesta quinta-feira (26), foi a do empresário Eliezer Machado e da médica pediatra Fernanda Zuccolotto. O casal passou o dia fazendo a mudança de volta para o apartamento que precisou deixar em 2016.

Segundo Fernanda, apesar do cansaço, os dois estão felizes com o retorno. "Foram três anos de muita dedicação da empresa, da incorporadora, e nossa também, de estar acompanhando todo esse processo. Não foi fácil viver fora da casa da gente, com as coisas que não são nossas. Então está dando uma sensação de alívio agora", afirmou.

O empresário conta que foram três anos de angústia e espera para retornar ao lar, mas que agora os dois podem retomar o sonho interrompido.

"Quem vê o que a gente passou há três anos, até se assusta de a gente estar voltando. Mas nós acompanhamos passo a passo. Desde o primeiro dia, a gente teve suporte e acompanhamos passo a passo a obra. Então isso dá total segurança para a gente retornar agora para a nossa casa. Quando a gente comprou aqui, isso aqui era um sonho. Por um tempo, esse sonho ficou distante. E agora voltar, realmente é magnífico", destacou. "E agora a gente tem um filho", emendou Fernanda.

Quem também fez a mudança nesta quinta foi a economista Juliana Pádua. No entanto, o apartamento dela no Grand Parc ainda está em reforma. Como ela não quis esperar, resolveu alugar outro, no mesmo condomínio.

"A gente estava com uma expectativa muito grande de voltar, a gente tem criança pequena. Então hoje a gente já dorme aqui. Meu aniversário é no final de semana e eu já vou passar aqui, graças a Deus", comemorou.

Reforço

Para que os moradores pudessem retornar, o prédio precisou ser todo vistoriado e recebeu reforço na estrutura. "O reforço se deu lá na fundação e em toda essa laje nova, que foi a laje que colapsou. E as torres tiveram também, por segurança, um revestimento em concreto e aço até o último andar, onde se fez praticamente uma nova viga, só que uma viga parede, que abraça o prédio", explicou o conselheiro do condomínio, Alexandre Lima.

A construtora gastou cerca de R$ 180 milhões com as indenizações e reformas. Como parte do acordo com as famílias, houve melhorias no prédio, com ampliação de áreas comuns e acabamento de melhor qualidade.

Segundo os moradores que estão retornando para o Grand Parc, depois de tudo o que passaram, pelo menos a história terminou bem. Eles afirmam estar em um prédio muito melhor do que antes.

"É uma nova vida. Não é comparado com o que nós tínhamos anteriormente. É como se você realmente tivesse saído de uma moradia antiga e ido para uma moradia nova", comparou Alexandre Lima.

Relembre o caso

O desabamento de três lajes do condomínio aconteceu durante a madrugada do dia 19 de julho de 2016. As três estruturas que caíram foram a da área de lazer, a da área da garagem e da a área do subsolo. Na ocasião, o porteiro Dejair das Neves, de 47 anos, que trabalhava no condomínio, morreu e outras três pessoas ficaram feridas, entre elas, o síndico e funcionários do prédio.

Pelo menos 50 carros foram totalmente destruídos. Na ocasião, o coordenador da Defesa Civil de Vitória informou que toda a área de lazer do prédio havia sido comprometida.

De acordo com a Cyrela, foram firmados acordos individuais com os condôminos, com o objetivo de realizar o pagamento de valores a título indenizatório, bem como reconstruir a área externa de lazer danificada e reforçar as estruturas para entregar o condomínio em plenas condições de habitabilidade.

O acordo definiu ainda que a empresa teria de alugar casas ou apartamentos mobiliados para as famílias, além de disponibilizar novos automóveis para substituir os que ficaram destruídos.

Engenheiros réus

No final de agosto, os quatro engenheiros responsáveis pela construção do Grand Parc viraram réus. A ação tramita na 6ª Vara Criminal de Vitória. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por negligência e mau uso da formação técnica.

O MPES sustentou, a partir dos laudos periciais e análises técnicas de empresas de engenharia, que além das condições estruturais precárias, houve erros de cálculo no projeto arquitetônico. Segundo a denúncia, os engenheiros não verificaram as irregularidades existentes e permitiram a construção com diversas falhas, inclusive uma estrutura subdimensionada, incapaz de suportar o peso previsto.

O Ministério Público afirmou ainda que os envolvidos tinham consciência do risco aos moradores e que as negligências foram fatores determinantes no desabamento da estrutura e na morte do porteiro.