Projeto trabalha com o conceito de aproveitamento dos alimentos para consumo e geração de renda dos moradores.
Num período de dois meses, o quintal pouco utilizado do condomínio popular Naná Vasconcelos, no bairro da Linha do Tiro, na Zona Norte do Recife, ganhou a vida e as cores de uma horta orgânica. O espaço é cuidado pelos próprios moradores e foi criado com ajuda da Secretaria de Saneamento do Recife.
O projeto, implantado também no condomínio popular Miguel Arraes, na Tamarineira, na Zona Norte, busca aplicar os conceitos de horta comunitária para ampliar a visão dos moradores das localidades a respeito do reaproveitamento de alimentos.
O espaço, feito com madeira reciclada, garrafas pet, pedaços de cano de construção e telas para estufa. A verba utilizada para a criação da horta veio dos governos municipal e federal.
O cultivo é variado e traz, inclusive, conhecimento sobre as características de cada planta. “Aqui a gente tem hortelã, para dor de barriga, erva-doce, para cólica, e tem também uma planta que cura ressaca”, explica a dona de casa Hortência Silva.
Para as crianças que vivem nos condomínios, o aprendizado sobre a importância de cuidar das plantas, interagir com o meio ambiente e os hábitos de alimentação saudável começam desde cedo. “[Da horta] eu já comi morango e cebolinha”, conta Alice da Silva, de 6 anos, orgulhosa de ter consumido o que plantou.
Além de estimular o plantio de alimentos para consumo, a horta orgânica também incentiva a reciclagem de lixo orgânico produzido nas residências. Com o depósito desses resíduos em um minhocário, os moradores produzem húmus, um adubo resultante da decomposição de animais e plantas mortas, e de bio-fertilizantes orgânicos.
“Através do processo de compostagem, a gente vai ter a produção de minhocas, de biofertilizantes, adubo e a produção de sementes em mudas. Aqui se fecha o ciclo de modo que a gente consegue introduzir esses produtos no mercado, em feiras agroecológicas e no comércio local”, explica a gerente de desenvolvimento social da Secretaria de Saneamento do Recife, Débora Falcão.
Manutenção
Além de cultivarem as plantas para consumo próprio, os moradores dos condomínios se uniram à ONG Favela Orgânica, do Rio de Janeiro, para aprenderem sobre a importância de uma alimentação saudável e sobre maneiras de ganhar dinheiro reaproveitando o que seria descartado.
Durante as aulas da professora de gastronomia Regina Cheli, cascas, talos e caroços são reaproveitados, mostrando que é possível utilizar boa parte do que seria jogado fora e, de quebra, econtrar oportunidades de renda no reaproveitamento. "A gente que não sabia comer legumes, agora está comendo e vendo com outros olhos", diz a gastrônoma.
Para quem participa das aulas, a utilização de materiais que seriam jogados no lixo desperta a vontade de empreender. "Estou aprendendo muito e já estou pensando em abrir o meu próprio self-service", brinca a cozinheira Zilma da Conceição.