Atividade exige boa relação interpessoal
Com o número cada vez maior de condomínios-clube, a procura pelo síndico profissional ou terceirizado vem crescendo. Segundo a síndica profissional e sócia-diretora da ABW Planejamento & Estruturação Condominial, Adriana Bardawil, é difícil que um condômino se interesse em ser o responsável pela gestão dessas grandes estruturas.
Nesta entrevista, a especialista fala mais sobre a profissão, as vantagens e dificuldades para executar essa prestação de serviço. Destaca que alguns estudos estimam que em 2020, cerca de 50% dos condomínios do Brasil serão administrados por esta mão-de-obra especializada.
OPOVO - O que é ser um síndico profissional?
Adriana Bardawil- Síndico profissional é a terceirização do síndico morador. Ou seja, quando não há um morador para assumir, ou por outras questões que se queira terceirizar, entra o síndico profissional. É a profissionalização da função.
OP - Por que a senhora resolveu se tornar uma síndica profissional?
Adriana - A necessidade de atuar como síndica profissional, veio da necessidade criada por um outro trabalho que eu realizo, que é a implantação de condomínios. Percebi a carência do mercado nessa área e resolvi abrir uma empresa, a ABW Planejamento & Estruturação Condominial, para prestar esse serviço.
OP - O mercado para síndico profissional está crescendo em Fortaleza?
Adriana - Está crescendo no Brasil inteiro. Fortaleza acompanha. Na realidade a demanda está maior que a capacidade de absorção. Tem pessoas que estão fazendo como profissionais autônomos. Algumas administradoras, escritórios de contabilidade também estão oferecendo esse serviço, mas são muitos condomínios, de portes diferentes. Então, existe a necessidade de mais profissionais preparados para neste mercado.
OP - Um condomínio pequeno também pode contratar um síndico profissional?
Adriana - O que precisa ver é todo o contexto do condomínio. Há profissionais que cobram um salário para cuidar de condomínios menores. A minha empresa atua num porte de condomínio maior.
OP - Qual o trabalho principal do síndico profissional?
Adriana - O síndico profissional tem as mesmas atribuições de um síndico morador. A diferença é que o não morador é um profissional preparado para lidar com todas as obrigações fiscais, trabalhistas, legais, de operação, de manutenção. É um gerenciamento que não é feito de forma amadora. É uma gestão profissional. O síndico profissional vai gerenciar e otimizar todos os recursos.
OP - Qual a diferença, entre síndico profissional e a empresa administradora de condomínios?
Adriana - O síndico e a administradora têm funções diferentes e complementares. Um não exclui o outro. Eu costumo exemplificar de uma forma bem simples: síndico é o intelectual, é a cabeça. A administradora é o operacional, é o corpo comandado pela cabeça. O síndico é o gestor, a administradora a executora. Não adianta ter um corpo perfeito com uma cabeça problemática. O trabalho é em conjunto.
OP - Qual o custo de um síndico profissional em um condomínio?
Adriana - O síndico profissional é sempre mais oneroso para o condomínio do que o síndico morador, isso é fato, porque ele é um prestador de serviço e recebe uma remuneração para isso, enquanto o síndico morador, em geral, tem apenas a isenção da taxa. Em prédios pequenos, de baixo orçamento e complexidade, o síndico profissional pode não ser viável. Tudo isso é preciso ser analisado com cuidado. A remuneração do síndico profissional depende do condomínio, do porte do local, da quantidade de horas de dedicação estimada, do número de unidades, da receita.
OP - Dá para dar uma estimativa de custo?
Adriana - Varia muito e também depende do tamanho do condomínio. Mas num prédio com 400 unidades, por exemplo, ficaria em torno de R$ 4 mil, em média. Há basicamente três formas de cobrança por parte do síndico profissional: uma taxa pré-estipulada, uma porcentagem da arrecadação mensal, ou salários mínimos.
OP - Por que a contratação de síndico profissional está crescendo tanto?
Adriana - O crescimento se deve a um conjunto de fatores. Entre eles, a complexidade dos condomínios, que hoje são verdadeiros clubes; novas tecnologias, que exigem conhecimentos específicos. Tem também as obrigações legais: responsabilidade civil e criminal. Tudo isso não dá mais para ser gerenciado de forma amadora. Uma pesquisa, feita pelo site Sindiconet, mostrou que, em 2005, apenas 5% da gestão dos conjuntos residenciais era feita por síndicos profissionais. Em 2013, o percentual foi a 19% e em 2015 subiu para 26%. Alguns estudos estimam que em 2020, cerca de 50% dos condomínios do Brasil serão administrados por esta mão-de-obra especializada.
OP - Na sua opinião, quais os principais atributos de um síndico profissional?
Adriana - Ter habilidades com pessoas, saber ouvir, ter paciência, gostar de resolver problemas, saber negociar, ser proativo. É fundamental, também, ter transparência e credibilidade, bom senso, ética, responsabilidade, além de planejamento e organização.
OP - Quais são os pilares para uma boa gestão condominial?
Adriana - Eu divido em quatro. Primeiro, a parte de relacionamento. Você tem que fazer toda a comunicação com os condôminos, informar, fazer uma educação condominial, explicar com toda paciência que ele tem quer respeitar o interesse coletivo e não o pessoal. Então esse relacionamento é fundamental. O segundo pilar seria a manutenção, preventiva e corretiva. Outro pilar seria o da operação, que chamo de quadro de servidores. E, por último, fazer uma boa gestão das finanças. Controlar, fazer um planejamento financeiro, otimizar os custos, buscar alternativas para que a taxa não suba muito.
OP – Qual a maior dificuldade de administrar um grande condomínio?
Adriana - O problema é o relacionamento interpessoal. É fazer com que as pessoas entendam que um condomínio tem propriedade privada e propriedade coletiva. Um bem comum. Fazer entender que, mesmo estando no seu bem, no seu ambiente, tem que é que respeitar regras que interferem nos demais. As pessoas aceitam bem desde que não fira os interesses delas. Quando fere o interesse, acabam se voltando contra a administração. Eles veem muito mais o interesse particular do que o coletivo. O grande desafio é fazer com que todos tenham uma consciência coletiva.
OP - A lei da Inspeção Predial que entra em vigor no próximo ano ajuda os condomínios?
Adriana - Ela vai ajudar porque é emitido um laudo técnico emitido por profissionais, que irão olhar toda a operação do condomínio, toda a estrutura de equipamentos, vícios construtivos, necessidades urgentes. Um laudo desses pode identificar um problema sério e o síndico vai ter que tomar providências para evitar acidentes.