No Dia do Síndico, homenageamos quem encarou o desafio de ficar à frente na gestão e ainda colocar em prática ideias e iniciativas pela vida coletiva
Ele transformou espaços “que só criavam poeira” em áreas de troca de conhecimento e vivência entre os moradores. Ela assumiu a gestão de um caixa problemático e, com ações rápidas, aliviou o bolso dos condôminos. Ele transformou o lixo produzido no condomínio em adubo para a vida.
A escolha de ser a pessoa que recebe as demandas de um grupo de moradores é uma função que exige coragem e, no Dia do Síndico, comemorado em 30 de novembro, não faltam histórias inspiradoras de quem não só decidiu assumir as responsabilidades da gestão, mas também se propôs a desenvolver ideias criativas que mudaram para melhor a vida em suas comunidades.
Confira algumas (das muitas) histórias inspiradoras na região da Grande Florianópolis.
Do ‘vazio’ à troca de experiências
De um espaço vazio “que só criava poeira” a uma sala de estudos com biblioteca comunitária, que atrai estudantes de variados perfis e idades, até moradores que só querem um espaço tranquilo para leitura. Há cerca de sete anos, o Condomínio Nair Vieira, no bairro Campinas, em São José, oferece uma área diferente aos condôminos: a sala de estudos.
A ideia de disponibilizar a ‘Sala de Estudos Nair Vieira’, como foi batizada, surgiu durante a gestão do síndico Mário Nicolau Gomes. Na época, ele contou com um grande reforço para colocar o projeto em prática: sua esposa, Orildes Cossa, que hoje é aposentada e antes trabalhava na Secretaria de Estado da Assistência Social de Santa Catarina.
Enquanto Orildes se incomodava em ver tantas doações de livros que chegavam ao órgão e acabavam inutilizadas, o síndico percebia que cada vez mais os moradores descartavam obras na coleta seletiva. Eles, então, pensaram: por que não criar um espaço para troca de conhecimentos? E foi o que fizeram, depois de muita conversa com os moradores. Hoje, a sala conta com mais de 500 livros, para todos os gostos, e sempre com algum morador acomodado nas mesas e cadeiras para sua leitura ou estudo diários.
“A área estava abandonada, só criando poeira. E os condôminos viviam reclamando que não tinham um lugar silencioso para ler ou estudar. É muito bom porque as pessoas saem do apartamento”, comenta Mário. “Tem um senhor que comprou apartamento aqui porque pesquisou na internet e viu que tinha sala de estudos e biblioteca. Ele tem um filho que faz Direito e outro que também faz faculdade. Todos valorizam muito”, acrescenta Orildes.
Ainda na época da implantação da sala de estudos, foi projetada também uma academia e um espaço de recreação que, além de servir como salão de festas, fica aberto todos os dias para grupos que querem socializar, tomando um chá e jogando dominó. Mário relata que os moradores também gostam de assistir jogos de futebol no local. “Até no 7 a 1 a sala estava cheia”, relembra o síndico aos risos sobre o jogo entre Brasil e Alemanha na Copa do Mundo de 2014. “Fico satisfeito, pois tudo que podemos ajudar é lucro para todos, todo mundo ganha”.
Ações rápidas para aliviar o caixa
Em dezembro de 2015, Neide Carvalho assumiu o posto de síndica no Residencial Linea, no bairro Barreiros, em São José, com um grande desafio: controlar os altos gastos. Com 326 unidades distribuídas em três torres, o condomínio foi entregue pouco tempo antes e, sem moradores ocupando todos os apartamentos, as contas acabaram ficando sobrecarregadas.
Com experiência em Administração, Neide começou a gestão já promovendo mudanças. O primeiro passo foi a substituição das minuteiras, que em alguns espaços deixavam as luzes acesas 24 horas. “Modificamos para um minuto, tempo de acender e apagar”, conta ela, que teve que lidar ainda com as constantes reclamações dos moradores. “Eles reclamavam porque a conta de luz estava muito alta”.
A próxima etapa foi iniciar a substituição das lâmpadas comuns pelas de LED, começando pela iluminação do pátio, em que o acendimento é acionado das 18h às 6h. Enquanto isso, outra ação: o revezamento de utilização dos elevadores. Com três equipamentos em cada torre, a decisão foi deixar apenas dois ligados por vez. “O funcionamento é revezado uma vez por semana, o que também ajudou a baixar o custo”, relata Neide.
Todas as ações foram acompanhadas de uma intensa campanha de conscientização junto aos condôminos. E deu certo: “se alguém vê algo fora do lugar, alguma luz acesa, vai lá e faz a sua parte”, comenta a síndica. O resultado do trabalho foi a diminuição da conta de energia de R$ 14 mil para R$ 6 mil. “São ações bem legais que fazem a diferença”, comemora. “O síndico pode aumentar o valor do patrimônio de todos, assim como diminuir, então é bem importante essa função. Tenho uma fala que é ‘essa casa é nossa’, para as pessoas se conscientizarem de que cada pedacinho aqui também faz parte da sua casa, e vamos juntos cuidar dela”.
O abandonado transformado em ‘quintal de casa’
Há alguns anos, os moradores do Miramar Residencial, no Centro de Florianópolis, precisavam usar o carro para se deslocar aos locais de lazer. Caminhar nos arredores do condomínio após anoitecer, então, nem pensar. Com o Parque da Luz como “quintal de fundo”, o edifício ajudou a mudar esse cenário ao aderir à Associação Amigos do Parque da Luz – atualmente, nove condomínios da região fazem parte da iniciativa.
Com o matagal e a escuridão que marcavam o local deixados no passado, hoje a área pública conta com iluminação, parquinho para as crianças, paisagismo, campo de futebol e até grupos que se reúnem para fazer atividades ao ar livre. “O pessoal tinha muito medo de passar lá. Eu, inclusive, nem gostava de ir ali na frente. Mas agora é como se fosse o quintal de casa”, conta a síndica do Miramar esidencial, Marli Heidemann Bonetti.
A decisão para aderir à associação foi feita em assembleia, com a aprovação de quase todos os condôminos e valor mensal fixo estipulado para a contribuição. “Os moradores contribuem sem problemas, eles elogiam bastante”, relata Marli, ao comemorar ainda que o parque promoveu o encontro entre os condôminos, que em grande parte nem se conheciam. “Muitos costumam caminhar juntos com os cachorros e também praticar yoga e meditação em grupo, com voluntário que conduz as atividades”, orgulha-se a síndica.
Lixo que vira vida
A grande quantidade de lixo orgânico produzida no Condomínio Jardim Rio Tavares, no Sul da Ilha, poderia simplesmente ser encaminhada a um aterro sanitário e poluir ainda mais o meio ambiente nos arredores de Florianópolis. O síndico Edson Machado Pinto, no entanto, decidiu mudar esse destino e ainda melhorar a qualidade de vida dos moradores.
Após um intenso trabalho de pesquisa, incluindo visitas aos pátios da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap), Edson apostou na implantação de um sistema de compostagem no condomínio, feito por empresa especializada, em que todos os resíduos orgânicos das casas, além das podas e galhadas, são transformados em adubo que, depois, são utilizados pelos próprios condôminos.
Após uma forte campanha de conscientização e motivação, a ideia caiu no gosto dos moradores e a aprovação foi feita em assembleia. “O condomínio precisa estar receptivo para que um projeto deste evolua, e a administração do condomínio, pelos síndicos e conselheiros, deve motivar a discussão e a conscientização do morador”, comenta Edson.
Agora, o próximo passo do síndico é colocar em prática um projeto de separação total dos recicláveis, que já são recolhidos por catadores conhecidos da região.
“É preciso desenvolver a consciência social dos moradores, para que eles entendam que a separação adequada dos resíduos recicláveis no condomínio permite, no mínimo, que famílias de catadores tenham uma base de sustento mais fácil, e que o município gaste menos com a logística desses materiais”, destaca Edson, que em suas campanhas estimula, inclusive, os pais a mostrarem às crianças a realidade que todos vivemos em relação ao problema do lixo.