Especialistas debatem rumos do mercado imobiliário após Olimpíada
Tão logo o Rio foi anunciado em 2009 como sede da Olimpíada, uma onda de otimismo tomou a cidade, atingindo em cheio o mercado imobiliário. Condomínios começaram a ser erguidos por todos os lados e os preços foram às alturas. Mas, antes mesmo dos jogos, o cenário acabou esfriando com a crise econômica que se instalou no país.
Agora, o setor tem pela frente o desafio de encontrar novos caminhos num ambiente financeiro adverso e sem outro grande evento no horizonte.
Ainda que os preços de venda e aluguel estejam caindo nos últimos meses, um levantamento do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio) mostra que a valorização do metro quadrado chega 220% no Centro da cidade, se comparados os valores praticados em outubro de 2009 aos de julho de 2016.
Em bairros da Zona Sul, como Gávea, a variação foi de 197%. Na Barra, 139%. De acordo com o vice-presidente da entidade, Leonardo Schneider, o fim dos jogos encerra um ciclo de investimentos e transformações em mobilidade e segurança que valorizaram muito o setor. Mas, ainda que o evento tenha deixado uma sensação de otimismo, é preciso um pouco mais para retomar o fôlego.
— O sentimento positivo é bacana, mas não é suficiente. Precisamos de melhoria no cenário politico e econômico para trazer a confiança de volta. Ainda temos uma oferta muito grande e uma demanda baixa — diz ele.
Se no auge da valorização muita gente repetia como um mantra que só depois das Olimpíadas os preços cairiam, João Paulo de Matos, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio, afirma que isso acaba não se concretizando.
— Os preços diminuíram antes do jogos, por causa da crise. Então, não adianta esperar mais reduções só porque o evento chegou ao fim — crê.Porém, segundo o professor de MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e Construção Civil da Fundação Getulio Vargas, Paulo Pôrto, os reflexos do evento serão sentidos de maneira diferente ao longo da cidade daqui para frente.
— Na Barra, onde o estoque é muito alto, deve haver quedas de 5% a 10% nos valores dos imóveis pelos próximos seis a dez meses — prevê ele. — Na Zona Sul também pode haver ligeiras diminuições de preço, mas não pelos estoques. Isso deve acontecer porque os preços chegaram a níveis muito altos.
Já a Zona Portuária deve prosperar. Pôrto espera que o sucesso do Boulevard Olímpico se desdobre na construção de prédios residenciais na região.
— É uma nova opção de moradia, porque aquela área foi transformada num ambiente seguro, com entretenimento e transporte, voltando a ser foco do próprio carioca, e não só de turistas — reflete ele.
Para o especialista, é provável que as incorporadoras, que já adquiriram terrenos por lá, invistam em prédios voltados para as classes B e C, com imóveis de dois quartos com suíte, em condomínios com 200 a 300 unidades.
Imóveis de temporada sentem mais
Aqueles que investiram no aluguel por temporada certamente sentirão muita falta das Olimpíadas no Rio. Como calcula João Paulo de Matos, os contratos desta natureza devem ter agora valores até 30% mais baratos em relação ao período dos jogos.
— As pessoas que fizeram esse investimento tiveram muito sucesso, porque houve a demanda esperada. Mas agora a procura já começa a cair — observa ele.
O coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Mackenzie no Rio, Marcelo Anache, acrescenta que essas pessoas também deverão ter dificuldade para manter os imóveis ocupados nos próximos meses.
— Vai haver uma retração muito grande, porque não há outro evento deste porte programado. Quem investiu já está rezando para chegar o Ano Novo e o carnaval — comenta ele.
Segundo Anache, sofrem ainda mais aquelas pessoas que não têm uma boa rede de contatos ou uma empresa corretora bem atuante para encontrar novos clientes.
— Quem não consegue chegar às pessoas que vêm do exterior, por exemplo, será mais prejudicado, porque fica dependendo de uma demanda nacional, que está retraída em função da economia — diz ele.
Já entre as construtoras o momento é de zerar os estoques e planejar o futuro. O presidente da Patrimóvel, Rubem Vasconcellos, espera equilibrar as vendas nos próximos meses.
— Com o sucesso do evento, o Rio voltou a ser desejado e está pronto para ser vendido novamente. Agora que o mercado imobiliário já começa a dar alguns sinais de recuperação, é chegada a hora de dar liquidez às unidades prontas e até lançar novos negócios — vislumbra ele, que teve apenas um lançamento no primeiro semestre e planeja oito para o segundo.
Entre expectativas e dissabores, Paulo Pôrto arremata:
— Não é para esperar um boom imobiliário, mas sim um ajuste. O mercado vai voltar a se comportar de maneira natural. Vamos viver o mercado carioca, como são os mercados paulista, o mineiro e o gaúcho.