Durante o mês de maio, uma sequência de assaltos muito parecidos a condomínios de alto padrão está preocupando a polícia. E todos têm na portaria mão-de-obra terceirizada.
Higienópolis, Itaim Bibi, Morumbi e Moema são os bairros visados que tiveram condomínios de luxo invadidos por quadrilhas de aproximadamente dez bandidos; eles fizeram os moradores reféns e levaram tudo o que podiam: joias, dinheiro e aparelhos eletrônicos.
Não se sabe ainda se a autoria pertence ao mesmo grupo, mas em todos os assaltos, tanto nos condomínios de casas como nos de apartamentos, os bandidos entram com conhecimento do local e fortemente armados. No Morumbi até uma granada foi usada.
Os grupos circulam com carros de luxo para não chamar a atenção e, em muitos casos, chegam ao condomínio já de posse do controle de acesso ao portão da garagem. Em Moema, eles sabiam qual era o computador que armazenava as imagens do circuito de segurança do condomínio e o levaram, fugindo sem deixar pistas.
“A rotatividade de funcionários em empresas que prestam serviços terceirizados deixa o contratante muito vulnerável, a mercê da sorte”, explica Paulo Ferrari, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo (Sindifícios): “Continuamos com as estatísticas de que a cada dez condomínios que sofrem arrastões, oito são terceirizados”.
O Sindifícios continua alertando a categoria sobre os males da terceirização, para que os mesmo tentem repassar as informações em seus locais de trabalho.
Monitoramento à distância: mais um problema contra a segurança
Tendo em vista os problemas causados pela terceirização e pela ausência de um funcionário capacitado na portaria, empresas de monitoramento à distância têm perdido espaço em condomínio.
Há dois anos, uma nova proposta de portaria se tornou uma tendência na época, mas felizmente, foi algo passageiro. A ideia de encher o condomínio de câmeras, dispensar os funcionários e monitorar tudo de um escritório em outro endereço seduziu muitos síndicos.
“E sempre que surgem essas -ideias milagrosas-, elas vêm com o discurso apelativo de que só é possível reduzir custos no condomínio se os funcionários forem dispensados”, comenta Paulinho, que conhece há anos a realidade dos condomínios e sabe que a vida desses locais só é possível com mão de obra qualificada contratada pelo prédio. “Os moradores tem que se conscientizar que contratar um bom profissional não é custo, mas sim um investimento”, enfatiza.
Nos últimos meses, dezenas de locais que instalaram o monitoramento à distância estão se desligando e voltando a contratar portaria tradicional. Em um condomínio em Santo Amaro, local onde o zelador foi mantido e os porteiros dispensados, a vida ficou praticamente insustentável.
De acordo com o zelador, que pediu para não ser identificado, quase tudo o que os porteiros faziam foi transferido para ele e a empresa contratada se limitava a abrir o portão. “Quando chegava uma correspondência, por exemplo, e o morador não estava em casa, eu era acionado para recebê-la; quando vinha um prestador de serviço, eu era chamado para atendê-lo; eu não tinha mais sossego e não conseguia fazer meu próprio serviço, porque o movimento numa portaria de prédio é sempre intenso”, explica o zelador, sócio do Sindifícios há 18 anos.
Para ele, a situação começou a melhorar no começo de maio: “Felizmente o síndico percebeu o que eu vinha vivendo e que essa portaria à distância não proporcionou benefício algum ao prédio; assim, cancelou o contrato com a empresa e já contratou três novos porteiros”, fala satisfeito.