Mulher dizia ter sido vítima de um golpe de uma funcionária, se comprometia a pagar os valores desviados e passava cheques sem fundo
Os atuais síndicos dos condomínios Piemonte e Fontana di Trevi, nos bairros Salgado Filho e Barro Preto, respectivamente, denunciam a ex-síndica Luciene Vieira de desviar dinheiro dos dois edifícios. No total, entre 2022 e 2024, conforme os extratos bancários, a mulher teria desviado cerca de R$ 76 mil do condomínio Piemonte e R$ 160 mil no caso do condomínio Fontana di Trevi.
“No condomínio Piemonte, ela retirou por meio de boletos bancários e transferências todo o dinheiro da conta reserva que o condomínio tinha para emergências. Ela foi retirando o dinheiro aos poucos até restar somente R$ 7 na conta”, detalha Dirceu Brandão, síndico profissional que atende o condomínio.
Ele explica que, no ano passado, ao ser confrontada sobre a situação Luciene apresentou extratos de pagamento falsos. Na ocasião, ela alegou que quem teria realizado os desvios foi uma antiga funcionária da empresa que tinha acesso a todas as contas dos condomínios. Alegando boa-fé, Luciene se comprometeu em realizar o ressarcimento do valor total, mas apresentou um cheque sem fundo de R$ 90 mil.
No caso do condomínio Fontana di Trevi, a ex-síndica começou a desviar em 2024 o dinheiro tanto do fundo reserva quanto do ordinário - aquele utilizado para pagar as contas condominiais. Conforme a atual síndica, Raquel Perpetua Moreira, os moradores somente descobriram as retiradas de valores quando uma conselheira abriu um documento do banco de uma das contas do edifício e descobriu que estava com saldo negativo. O rombo deixado era de cerca de R$ 160 mil.
Luciene novamente alegou que havia sido vítima de um golpe de uma funcionária, assinou um Termo de Confissão de Dívida e tentou se comprometer a pagar R$ 60 mil por cheque. No entanto, o condomínio recusou o pagamento via cheque - já que estava ciente sobre o caso do edifício Piemonte.
Os dois síndicos abriram processos civis e criminais contra Luciane. O Ministério Público já acatou a denúncia do edifício Piemonte e um inquérito policial foi aberto para investigação do caso.
Nas redes sociais, onde tem mais de mil seguidores, Luciane se apresenta como empresária voltada para soluções comerciais para empresas. Ativa, em seu perfil, ela descreve que se tornou síndica profissional após largar o emprego em 2008. “Minha jornada como síndica começou de forma intuitiva e amadora, mas sempre com uma habilidade natural para resolver problemas”, detalha.
Em outra publicação, Luciene diz que sua gestão "é transparente, acolhedora e focada na resolução de problemas”.
No entanto, Luciene não respondeu aos pedidos de entrevista da Itatiaia. O espaço segue aberto para manifestação.
Como evitar cair em golpes?
O vice-presidente da Câmera do Mercado Imobiliário e o Sindicato de Habitação, Leonardo Mota, explica que esse tipo de situação é comum em vários condomínios. Por isso, ele aconselha que as gestões fortaleçam os mecanismos de controle e prevenção. "É fundamental que o condomínio mantenha uma fiscalização ativa. O banco não pode negar acesso do síndico às contas e o conselho precisa estar atento ao dia a dia da gestão financeira”, afirma.
Para ele a contratação de ‘síndicos profissionais ou externos’ deve ser feita com muita cautela e, por isso, sempre deve ser acompanhada do histórico, referências e credibilidade do candidato. “Muitos condomínios escolhem síndicos externos por critérios de preço, mas isso pode abrir margem para a contratação de pessoas que não são idôneas ou qualificadas para a função. É fundamental saber quem é essa pessoa, onde já trabalhou e se possui as qualificações necessárias para lidar com as complexidades da gestão condominial”, aponta.
Outra medida que Mota considera essencial é a contratação de uma empresa administradora para os condomínios. Elas servem para consolidar relatórios financeiros periódicos, que devem ser apresentados ao conselho fiscal e à assembleia de moradores.