Clientes que já contavam com serviços de segurança e monitoramento eletrônico agora dependem de trabalho com embarcações

Por trás do cenário transformado em ruas e avenidas com água batendo nas entradas de condomínios e invadindo apartamentos, casas e comércios, em Porto Alegre e em cidades da Região Metropolitana, existem outras estruturas em movimentação para dar conta da demanda da segurança. Empresas vigilância estão se adequando e passando a atuar com embarcações para atender os clientes.

O Menino Deus é um exemplo desta nova realidade. Condomínios se uniram para contratar o serviço de guarda privada de barco.

— A sensação de insegurança é grande. Sabemos de tiroteios na região. Já conseguimos cinco condomínios para dividir o custo. Faltam dois. Vamos pagar R$ 3 mil por turno de 12 horas de segurança para os sete condomínios durante cindo dias — conta Israel Freire Henzel, que é síndico em um condomínio na Avenida Getúlio Vargas.

Segundo ele, os residenciais envolvidos na contratação estão situados na Getúlio Vargas e nas ruas André Belo e Barão do Gravataí. O trabalho começa na noite desta sexta-feira (10). Como o contrato é fixo por cinco dias, se a água baixar, as rondas passam a ser feitas de carro. A contratada, segundo Henzel, é a empresa FNX Soluções em Segurança.

— Estamos com muita procura. A crise na segurança é grande. Nosso trabalho é coibir com presença ostensiva usando apitos e lanterna — explica um dos sócios, Thiago Moraginski.

Ronda com embarcações é novidade

A novidade na atuação da empresa, no entanto, são as embarcações. A FNX atua com sistema de portarias virtuais. Com as enchentes, os sócios perceberam a necessidade de ampliar as modalidades de atendimento. Três embarcações foram adquiridas, inicialmente, e, a partir desta sexta-feira (10), mais dois barcos chegaram.

— Fizemos análise do que aconteceu nos Estados Unidos, com o Katrina, e nos preparamos para cuidar dos nossos clientes. Estamos com bastante atuação no Humaitá, que é o local com a maior crise de segurança, tem guerra de facção. As pessoas lutaram a vida toda para ter aquela residência, não querem perder as coisas — diz Moraginski.

O trabalho não é armado. A ideia é manter presença ostensiva em residenciais que tiveram de ser evacuados em zonas mais alagadas, mas também naqueles em que os moradores permanecem e temem invasões. Há muitas regiões ainda sem luz, o que pode facilitar a ação de criminosos. As rondas da FNX vão ocorrer entre 19h e 7h, no Menino Deus. Em outros pontos, incluem horários ao longo do dia. Desde o começo das cheias, Moraginski disse que a empresa já foi procurada por cerca de 20 clientes.

Com isso, houve a contratação de cerca de 30 funcionários, além de barqueiros para conduzir com segurança as embarcações.

— Não está sendo fácil contratar. As pessoas correm risco nessa atividade. Nós exigimos experiência e formação em cursos básicos de segurança. Mas estamos gerando empregos —pontua o dono da empresa.

No bairro Rio Branco, em Canoas, condomínios e comércios também estão usando o serviço de segurança com barcos. O síndico profissional e morador desalojado, Anderson da Silva, disse que estão sendo feitas rondas permanentes pela FNX em condomínios dos bairros Rio Branco e Fátima:

— Ontem, até acompanhei uma embarcação. É muito tenso. Um trajeto curto pode levar horas de trabalho. E com a água, perdemos as referências de localização, de ruas. Parece um filme em que passou um tsunami. Também tem helicópteros da Brigada Militar passando, policiais.

Quando a chuvarada começou na sexta-feira (3), as equipes da Ensel Vigilância começaram a se movimentar: o desafio era fazer rondas ostensivas pela água.

— Nunca nos passou pela cabeça precisar de barcos, não tínhamos plano B. Na sexta, com barcos de diretores, o foco foi salvar pessoas, resgatar. Num segundo momento, começou essa questão da proteção ao patrimônio para minimizar a situação para quem já teve danos gigantes — contou Camila Thomsen, da Ensel.

Ao longo da semana, a empresa, que teve uma das unidades alagada em Porto Alegre, comprou um barco e ainda segue com apoio de embarcações de diretores. Inclusive, pela dificuldade de contratação neste momento, há diretores atuando na condução dos barcos. A Ensel teve em torno de 200 clientes atingidos na Capital, especialmente, os que fazem uso de alarmes e monitoramentos eletrônicos, e outros 60 em Canoas.

Momento é de colaboração pela segurança

O comandante de policiamento da Capital da Brigada Militar, coronel Luciano Moritz, destacou que este é um momento de colaboração entre todos e que policiais militares têm percebido a atuação dessas empresas em pontos alagados:

— Nós estamos com guarnições de todos os batalhões atuando, usando embarcações nossas e de voluntários. Nos cruzamos por água com essas empresas e com voluntários. É natural que a população e empresários busquem esse reforço de segurança neste momento. É hora de salvar quem tem que salvar e, obviamente, com o apoio de todos, saturar ambientes para evitar problemas.

A FNX não atua usando armas e, por isso, o cadastramento, permissão para funcionamento e fiscalização são de competência do Grupamento de Supervisão de Vigilância e Guardas, da BM. A Ensel, que atua no ramo armado, é homologada junto à Polícia Federal.

Sobre o tipo de atuação das empresas, agora com barcos, o coronel avalia ser apenas uma adequação ao modo de fazer vigilância. E que tal prática "juntamente do voluntariado unifica o momento de união de todo o cidadão gaúcho".

Moritz também destacou que o "maior inimigo" hoje são as informações falsas potencializadas em grupos de WhatsApp.

— Não podemos fazer de um fato ou outro uma histeria generalizada — disse o coronel.