Durante a tarde desta sexta (22), luz retornou por 10 minutos e logo caiu. Na quinta (21), o Copan, outro edifício icônico da capital, também ficou às escuras; na segunda (18), 35 mil clientes foram prejudicados
O Edifício Itália, prédio histórico no Centro de São Paulo, segue sem luz na noite desta sexta-feira (22). A queda de energia já dura mais de 24h no local. O mesmo acontece em diversas locais da região central.
"Eu chamaria isso de calamidade pública municipal na maior cidade do país, na cidade mais rica do país", afirmou José Arnone Filho, síndico do Itália.
Em nota, a Enel informou que restabeleceu, às 16h, o serviço de 97% dos clientes impactados e que está mobilizada para resolver os problemas na rede subterrânea. No entanto, a empresa não comentou a situação do edifício.
O prédio — que tem 100 metros de altura, 46 andares, um restaurante no terraço e recebe mais de 6 mil pessoas por dia — teve que ser esvaziado, já que o gerador funcionou por apenas algumas horas.
Funcionários tiveram que enfrentar mais de 40 lances de escada. "Muito difícil até descer tudo e chegar aqui embaixo, mas graças a Deus deu tudo certo", disse o cozinheiro Antônio Varguinildo.
Durante a tarde, a luz retornou por apenas 10 minutos, mas logo caiu. Na quinta-feira (21), o Copan, outro edifício icônico da capital, que tem mais de 5 mil moradores, também ficou às escuras.
Dias sem luz
República, Santa Cecília, Vila Buarque, Consolação, Higienópolis, Bela Vista e Centro Histórico são apenas alguns dos bairros afetados pela falha na distribuição, que ocorre, de maneira intermitente, desde segunda-feira (21). É a terceira interrupção no fornecimento de energia para a região nesta semana.
Na segunda-feira (18), 35 mil clientes foram prejudicados. Na tarde desta quarta (21), uma nova falha provocou um segundo apagão. Na manhã desta quinta (21), a Enel informava que cerca de mil clientes permaneciam supridos por geradores até o final dos reparos na rede da distribuidora.
Por conta dos frequentes problemas, a Prefeitura de São Paulo acionou novamente a Aneel e o TCU contra a Enel.
Alguns prédios que tiveram a energia elétrica restabelecida na Vila Buarque voltaram a ficar sem luz nesta quinta (21). Em um dos edifícios, um morador ficou preso no elevador.
A falha também afetou a região da esquina mais famosa de São Paulo — a das avenidas Ipiranga e São João.
Proprietários de uma sorveteria instalada no complexo do Copan contaram que mais de 3 mil sorvetes e 5 mil ovos correm o risco de estragar por conta da falta de energia elétrica. Na publicação nas redes sociais, criticaram o serviço da Enel e classificaram a falha como "irresponsabilidade criminosa".
Enel
Em nota, a Enel lamentou os transtornos causados aos clientes que foram impactados nos últimos dias e disse que tem mobilizado todos os esforços e recursos para restaurar os parâmetros originais da rede afetada.
"O trabalho na rede subterrânea é complexo, envolve condições de temperatura e espaços confinados para acesso. A companhia está mobilizando um total de 25 geradores para abastecer os clientes impactados, enquanto segue trabalhando nos reparos da rede para normalizar integralmente o serviço".
A companhia insiste que o apagão teria iniciado a partir de uma obra da Sabesp na Vila Buarque. Funcionários da companhia de abastecimento de água teriam puxado a fiação subterrânea durante uma escavação.
Sabesp
Já a Sabesp informou que "análises não identificaram relação do ocorrido com o trabalho da Companhia realizado na manhã de segunda-feira (18)".
"No ponto específico onde estão localizados os cabos elétricos, a escavação foi feita manualmente. A Sabesp está à disposição da Enel e autoridades para prestar informações", diz a nota.
Início do drama
O apagão no Centro de SP começou justamente na segunda (18), por volta das 10h30 da manhã e atingiu parcialmente pelo menos cinco bairros da região.
Pelo menos 35 mil usuários da rede foram afetados, segundo diretores da própria Enel. Casas e comércios e três hospitais ficaram no escuro.
Além da Santa Casa de Misericórdia, na Santa Cecília, o Hospital Santa Isabel e o Instituto do Câncer Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho mantiveram as atividades essenciais a base de geradores.
Uma obra na rua General Jardim, na Vila Buarque, que pode ter sido a causa do apagão segundo a concessionária Enel, terminou antes que a luz voltasse em alguns imóveis. Até agora, ninguém assumiu a culpa pelo problema.
A Enel diz que a Sabesp puxou a fiação subterrânea durante uma reforma da tubulação de esgoto, que passa no mesmo ponto. E a Sabesp nega qualquer ligação entre o serviço e o apagão.
Jogo de empurra
Segundo a Enel, o apagão teria iniciado a partir justamente da obra da Sabesp na Vila Buarque. Funcionários da companhia de abastecimento de água teriam puxado a fiação subterrânea durante uma escavação.
Mas a Sabesp nega a acusação.
“A Sabesp de fato fez a escavação no local, existia sim, uma rede de energia elétrica, mas a princípio, por avaliações que nós fizemos, não houve um dano naquele local, na rede de energia elétrica. Contudo, nós estamos atuando em parceria, com as equipes a disposição para resolver o problema”, ressaltou Maycon Abreu, superintendente da Sabesp.
Equipes da concessionária e da Sabesp trabalham em parceria para analisar as causas da interrupção. Mas não deram previsão de quando vão religar a luz para todos os clientes afetados.
Cerca de 1% dos cabos de energia elétrica na capital é subterrânea e essa parcela está justamente na região do Centro. Na Rua General Jardim, onde fica a obra da Sabesp, moradores estão sem luz e sem água, já que a área está sem energia para bombear a água para os prédios.
O que dizem as duas agências?
A Arsesp informou que tem 23 fiscais que acompanham o trabalho das distribuidoras que atendem o estado. Em agosto, durante a CPI da Enel na Alesp, os diretores da agência afirmaram aos deputados que “a concessionária paulista cumpre, na média, os indicadores de qualidade no fornecimento de energia elétrica”.
Já a Aneel informou que aplicou mais de R$ 320 milhões em multas à empresa, desde 2018. A maior delas foi neste ano: R$ 165 milhões, pela demora para restabelecer a energia, depois do temporal que atingiu a grande São Paulo, em novembro do ano passado. No entanto, a Enel entrou com um recurso administrativo e ainda não pagou o valor.
Na ocasião, cerca de 2,1 milhões de imóveis ficaram sem energia após tempestades no estado.