Moradora denunciou situação em redes sociais e gerou debate, em Goiânia. Funcionárias dizem que precisaram tirar todos os pertences das bolsas.

Empregadas domésticas que prestam serviços em casas do condomínio Alphaville Flamboyant, em Goiânia, reclamam que precisam passar por revistas, feitas por seguranças do residencial, antes de entrar e sair do local de trabalho. As funcionárias disseram que o procedimento começou a ser feito na última segunda-feira (16), quando elas precisaram esperar em uma longa fila para passar pela vistoria.

O caso ganhou repercussão nas redes sociais depois que uma moradora do condomínio fez uma postagem, dizendo que soube que a funcionária que trabalha na sua casa estava passando por revista. Mais de 370 pessoas compartilharam a mensagem que, até a manhã desta quinta-feira (19), teve mais de 90 comentários.

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No texto, a moradora afirma não concordar com a vistoria e que se sente indignada com a situação que as domésticas precisaram passar.

Ela relata ainda que seguranças sugeriram que as funcionárias entrassem sem os pertences se não quisessem ser revistadas.“Revoltadas, elas ainda tiveram que ouvir que quem quisesse minimizar o desconforto que fosse trabalhar somente em posse do crachá de identificação, e nada mais”, relatou a moradora.

A Diretoria Executiva da Associação Alphaville Flamboyant Residencial informou por meio de nota que a vistoria "constitui de um aperfeiçoamento oportuno e relevante para a proteção do patrimônio e integridade física dos moradores, considerando o aumento do nível de extrema violência urbana, que faz com que tenhamos que adotar medidas de maior controle".

Ainda conforme o texto, "o procedimento sempre existiu e existe em todos os condomínios, apenas foi aprimorado" e afirmou que "a segurança e o conforto são inversamente proporcionais e à medida que um aumenta o outro diminui".

A empresa ainda reafirmou "compromisso em realizar os procedimentos, sempre pautados na legalidade e acima de tudo preservando a privacidade individual e o respeito aos nossos prestadores de serviços"

Uma doméstica de 50 anos, que trabalha no local há cerca de dez anos, diz que se sente constrangida com o procedimento. “Eles [funcionários do condomínio] só faltam pedir para passar a mão na gente. Pedem para tirar tudo da bolsa, querem saber quantos celulares a gente tem, qual marca, me senti humilhada”, disse.

A funcionária afirma que chegou a pedir demissão por causa da necessidade de ser vistoriada, mas os chefes não aceitaram. “Eles disseram que vão conversar com a administração do condomínio. Eu tinha senha liberada para entrar e sair, faço compras para a casa, levo a senhora para sair, agora não posso mais, está suspensa”, reclamou.

Constrangimento

Outra doméstica, que preferiu não se identificar, também reclamou da revista. “Todo mundo foi pego de surpresa, ninguém foi avisado de nada, não assinamos nada. Até falei que ia pedir demissão, porque se for para trabalhar em um lugar em que as pessoas não têm confiança em mim é melhor sair. Foi humilhante ter que derramar todos os meus pertences, coisas íntimas no meio de todo mundo, isso não existe”, disse.

Duas mulheres que também trabalham como domésticas em casas do residencial, e não quiseram ser identificadas, se revoltaram com a situação. Uma delas relatou que chegou às 7h, mas só foi liberada para trabalhar às 9h. A outra contou que viu uma colega tirando até roupas íntimas de dentro da bolsa na vistoria.

Já uma doméstica de 32 anos comentou que também ficou envergonhada e precisou esperar mais de 40 minutos na fila só para poder entrar no condomínio. “Para mim isso é uma falta de respeito, fiquei muito constrangida. É muita humilhação e não sabem fazer também, parecia que estavam perdidos”, pontuou.

Apesar da indignação das colegas, uma diarista de 50 anos afirmou que acha o procedimento normal. “Eu entendo, é uma precaução, é segurança até para nós, para não acusarem a gente de algo que não fizemos”, opinou.

As mulheres relataram que, na quarta-feira (18), após a repercussão do caso, a revista já foi menos detalhada. Os seguranças pediram apenas que elas abrissem as bolsas, sem retirar os pertences, e passassem pelo detector de metais.