No Brasil, cerca de 80 milhões de pessoas moram em mais de 520 mil empreendimentos que movimentam aproximadamente R$ 190 bilhões por ano
Mais de um terço da população brasileira vive em condomínios residenciais, segundo dados do INCC (Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos). Esses cerca de 80 milhões de pessoas moram em mais de 520 mil empreendimentos que movimentam aproximadamente R$ 190 bilhões por ano em taxas de administração, serviços de manutenção e limpeza.
Nos últimos 8 anos, houve um aumento expressivo no número de condomínios. Em 2016, eram cerca de 420 mil, e agora, em 2024, já ultrapassam os 520 mil.
Como resultado, a busca por síndicos profissionais aumenta, já que cada condomínio precisa ter uma liderança representativa, alguém que administrará o dinheiro, os problemas e os conflitos, e nem sempre haverá um morador disposto ou qualificado para assumir o papel.
De acordo com a Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), a projeção é de um crescimento de 25% a 30% nos postos de trabalho para síndicos profissionais nos próximos cinco anos.
Além disso, esse aumento no número de condomínios implica mais empregos em outras áreas. Neste momento, esses empreendimentos já empregam diretamente 2 milhões de pessoas, conforme o Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos.
Desenrola
O levantamento analisa tanto atividades formais quanto informais —dos empregos com carteira assinada e os terceirizados.
Margareth Ferreira Bariani, síndica profissional na Zona Norte da capital paulista, tem quase uma década de experiência na função e comanda hoje cinco empreendimentos. No total, ela gerencia mais de 300 unidades residenciais, com mais de 700 moradores.
A síndica iniciou sua trajetória como conselheira, se tornou subsíndica e síndica moradora, antes de decidir se profissionalizar. A profissionalização pode ser alcançada através de cursos de qualificação, como os promovidos pela AABIC.
O síndico profissional pode ser apenas alguém que percebeu levar jeito para as burocracias de gerir um condomínio. Existem também cursos, como os promovidos pela AABIC.
No caso de Margareth Bariani, a transição para síndica profissional veio da necessidade de administrar seu primeiro condomínio de maneira mais eficaz, buscando compreender as complexidades do cargo e as legislações envolvidas.
Inicialmente, ela atuou como síndica moradora à medida que se profissionalizava, passou a administrar outros condomínios como síndica profissional.
"Quando me tornei síndica profissional, eu tive que abrir uma empresa, fazer cursos e não parei mais de estudar. Continuo frequentando congressos e palestras. Ser síndico é mais complexo do que a gente imagina", diz.
Na avaliação de Bariani, o mercado para síndicos profissionais tem se ampliado devido ao comprometimento de tempo necessário para manter-se atualizada, o aumento das exigências legais relacionadas à gestão do condomínio e as crescentes demandas dos moradores.
"Os síndicos moradores, também chamados de síndicos orgânicos, geralmente têm outro emprego ou outros afazeres. Já o síndico externo, profissional, precisa estar sempre acessível e resolver as questões do condomínio para conseguir permanecer no cargo", afirma.
José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), diz que ainda existe muito espaço para a ampliação do mercado para síndicos profissionais.
"Em São Paulo, notamos que cerca de 13% a 14% dos condomínios associados à nossa entidade possuem síndicos profissionais, enquanto os outros 86% são conduzidos por síndicos moradores", diz.
Ele diz ter percebido um aumento no número de pessoas que se apresentaram para ser síndicas durante a pandemia, em consequência do aumento do desemprego. Contudo, ele alerta que o despreparo para a função pode resultar em má gestão, o que levaria os conselhos de moradores a intervir.
"Por volta de 89% dos condomínios não conseguem manter o síndico profissional por mais de dois anos", afirma.
A sugestão dele é que os interessados no trabalho comecem atuando como síndicos ou conselheiros nos condomínios onde moram. "Essa experiência prática ajuda a entender como tudo funciona antes de se comprometer com a carreira."
Para Paulo Melo, presidente do Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos, um dos maiores desafios da profissão de síndico é lidar com as desconfianças dos moradores quanto à destinação adequada do dinheiro arrecadado com as taxas condominiais.
"Os síndicos estão constantemente sendo julgados. A questão é: como fortalecer a relação de confiança entre síndicos e moradores? A resposta para mim é a transparência. Abrir as contas para os próprios moradores poderem verificar a destinação do dinheiro", afirma.
PERFIL DO SÍNDICO IDEAl
Juarez Lourenz de Oliveira Junior, síndico profissional e advogado, diz adotar uma comunicação aberta com os condôminos, também pensando na transparência de sua gestão.
Com mais de 20 anos de experiência e atualmente responsável por 12 condomínios em São Paulo, ele defende a importância de manter os moradores sempre informados.
"Comunico tudo que faço nos condomínios e também incentivo a participação dos moradores. Explico detalhes sobre a contratação de serviços para as obras, por exemplo", afirma.
Para ele, a atitude não só reduz desconfianças, mas também promove uma participação mais ativa da comunidade.
Saber lidar com as emoções em várias situações é outro ponto fundamental no trabalho de um síndico. É preciso se comunicar bem, especialmente quando alguém chega com uma reclamação.
"Muitas vezes, o problema que a pessoa traz não é o real motivo do desconforto, então é preciso ouvir, contornar a situação e usar a inteligência emocional" diz Oliveira Junior.
Bariani concorda que há um grande desafio nas relações humanas. Ela destaca a necessidade de estar emocionalmente bem preparado. No caso dela, ser uma mulher também pesa.
"Quando o morador é um homem e vê uma mulher, ele acha que será muito mais fácil levar a conversa no grito, na força, e não é por aí", diz.
Outro ponto importante para quem adota a profissão é o trabalho em equipe. "Se eu não tiver bons funcionários, eu não tenho um bom condomínio", afirma a síndica.
TECNOLOGIA NA GESTÃO CONDOMINIAL
De acordo com o Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos (INCC), o investimento mensal em tecnologia em um condomínio varia entre 5% e 12% do total arrecadado.
Em condomínios administrados por Bariani, muitos adotaram, durante a pandemia, sistemas como o de reconhecimento facial e a instalação de portarias virtuais. Essas mudanças, segundo ela, simplificaram o acesso dos moradores.
A síndica destaca ainda a praticidade de um sistema que monitora as caixas d’água por aplicativo e outro que registra quando suas funcionárias fazem a limpeza.
"Hoje a tecnologia é mais utilizada pelo morador. O morador faz tudo e os funcionários somente complementam", afirma.
Um bom exemplo disso é a utilização de portas com biometria exclusiva para moradores, que pode liberar o porteiro para focar em tarefas como recebimento de visitantes e encomendas.