A urgência de falar sobre saúde mental nos condomínios
Cleuzany Lott (*)
Estimular uma vida mental saudável deveria ser prioridade para síndicos, funcionários e moradores de condomínios. O Brasil lidera os casos de ansiedade no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), portanto, trata-se de um problema de saúde pública.
Muitas vezes, quando o assunto chega ao prédio, se resume em fofoca, um hábito socialmente arraigado que poderia ser substituído por campanhas, como o Janeiro Branco.
Este é o primeiro ano que o mês de janeiro é oficialmente dedicado à promoção da saúde mental. A Lei nº 14.556/23 foi sancionada em abril do ano passado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin Filho, no exercício do cargo de presidente.
O PL 1.836/2019, do deputado Assis Carvalho, do Piauí, deu origem à lei federal. Infelizmente, em julho de 2020, o autor morreu de infarto em Oeiras, no interior piauiense, mas deixou o legado. Já o precursor da campanha Janeiro Branco é o psicólogo mineiro Leonardo Abrahão.
Suicídio em condomínios
No Brasil, cerca de 19 milhões de pessoas sofrem de estresse, ansiedade, depressão, pânico, entre outras enfermidades psíquicas. Considerando que mais de 68 milhões habitantes em condomínios no país, provavelmente muitos deles estão nesses empreendimentos.
Apenas para recordar, no dia 15 do próximo mês, fará um ano que um policial militar matou um síndico e depois cometeu suicídio em Jundiaí (SP).
Quantas outras notícias sobre pessoas se jogando das janelas ou sacadas dos prédios você ouviu nos últimos meses? Em 2022, foram 44 vidas perdidas por dia em diferentes lugares, com pessoas de diferentes faixas etárias e financeira.
As informações estão no Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado no ano passado, que registrou 16.262 suicídios no país.
A ajuda a essas pessoas pode chegar através das campanhas de conscientização, de uma palavra de acolhimento ou informações sobre onde buscar socorro.
Branca x Amarela
A Lei Federal nº 14.556/23 determina a realização de campanhas públicas de conscientização da população sobre a saúde mental, abordando a promoção de hábitos e ambientes saudáveis e a prevenção de doenças psiquiátricas, com enfoque especial na prevenção da dependência química e do suicídio.
Com a instituição da data, o país terá dois meses destinados à atenção ao suicídio e saúde mental: o Janeiro Branco e o Setembro Amarelo, adotado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Simbolicamente, a cor branca representa “folhas ou telas em branco”.
A proposta é estimular as pessoas a projetar expectativas, desejos, histórias ou mudanças com as quais sonham e que desejam concretizar. Diferente da escolha da cor amarela para o mês de setembro.
No nono mês de 1994, nos Estados Unidos, os pais e amigos de um jovem de 17 anos que havia se suicidado distribuíram cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais. A cor era uma referência ao carro que Mike Emme possuía, um Mustang 68.
Incentivo ao autocuidado
“De janeiro a janeiros, viver desafia”. A frase reproduzida na fachada de um prédio em São Paulo é um convite à reflexão e atitude. Como diz o texto da “Projetemos”, uma rede nacional de projeccionistas livres do Brasil, “a insistência em atravessar as dificuldades, buscar alguma felicidade exige atenção – dos profissionais de saúde mental e/ou advinda de um cardápio amplo (família, amigos, lazer, amores, trabalho)”.
Nesse “cardápio”, eu acrescento os condomínios para terem “coragem para falar, incentivar o autocuidado” e proporcionar o “acolhimento aos moradores vulneráveis”.
Também desejo aos a persistência do psicólogo Leonardo Abrahão, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Ele acreditou que poderia mobilizar multidões em defesa da qualidade de vida e bem-estar emocional. E conseguiu. Ele é precursor do maior movimento do mundo da campanha Janeiro Branco, que tem a adesão de outros países, como Japão, Cabo Verde, Angola, Portugal, Espanha, Colômbia e França.
Dez anos depois das caminhadas de porta em porta convocando a população para abraçar a causa, o sonho foi coroado com a instituição da lei federal sobre a importância do cuidado com a saúde mental.
O que você irá escrever no seu quadro em branco este mês? Aproveite o incentivo e deixe o seu legado.
Cleuzany Lott é advogada condominialista, especialista em direito condominial, síndica, jornalista, publicitária, diretora da Associação de Síndicos, Síndicos Profissionais e Afins do Leste de Minas Gerais (ASALM), Diretora Nacional de Comunicação da Associação Nacional da Advocacia Condominial (ANACON ), coautora do livro e-book: “Experiências Práticas Conflitos Condominiais” , apresentadora do quadro Condomínios.etc no programa Condofornecedor.tv e do podcast Condominicando.