Vida em condomínio

Como manter a harmonia entre os vizinhos?


Férias escolares e verão são a deixa para quem mora em condomínio com piscina passar horas se refrescando na água. Crianças e adolescentes se distraem com os jogos nas quadras de esportes e brincadeiras no playground, e os adeptos do sossego procuram a sombra para relaxar. A convivência nem sempre é pacífica, já que a alegria dos mais novos pode exceder em determinados momentos e perturbar a paz de alguns moradores. No meio dos conflitos, o síndico tem papel fundamental para manter a ordem, o respeito aos direitos e o cumprimento das regras existentes.

Os condomínios - seja de apartamentos ou de casas - são regidos por dois documentos, a convenção e o regimento interno. A convenção é um material mais robusto que dita as normas gerais do condomínio e como deve ser o funcionamento do local.

“É como se fosse a Constituição”, compara Julio Paim, fundador do SíndicoNet, plataforma de conteúdo, capacitação e serviços para síndicos, condomínios e administradoras condominiais.O regimento interno determina regras mais específicas de convivência, o que pode e o que não pode fazer. É nele que estão as orientações sobre as brincadeiras que podem ser feitas na piscina, se é liberado jogar bola ou usar pistolas que lançam água, o horário de uso do salão de festas e das quadras esportivas, por exemplo. O texto é mais flexível, podendo ser alterado conforme surgem novas necessidades ou para solucionar problemas entre vizinhos.

“As mudanças precisam ser aprovadas em assembleia com maioria simples dos presentes. Não é só dar uma ‘canetada’ e alterar as regras”, alerta Paim.O fundador da plataforma diz que os síndicos precisam deixar claro quais são as normas para uso das áreas comuns. Uma alternativa é fixar as regras em espaços visíveis a todos.

“Não precisa colocar o regimento interno na íntegra no elevador porque ninguém vai ler. Mas pode colocar as orientações de uso da piscina e áreas de lazer em uma semana e na outra expor sobre o horário de silêncio”, exemplifica.

Nas situações em que as regras são infringidas, antes de aplicar uma multa (quando é possível) deve ser dada uma advertência ao morador. Paim diz que é muito difícil e sobretudo arriscado para o síndico multar os responsáveis por crianças nos casos em que elas gritam durante as brincadeiras, isso quando fora do horário determinado como de silêncio.

“Se o barulho for dentro do horário de silêncio, aí sim é possível aplicar uma multa porque as crianças estavam usando a quadra e gritando, na piscina ou em qualquer área comum. Precisa ser muito evidente e extremo que está ocorrendo o problema, lembrando que para qualquer multa é muito importante que o síndico tenha os registros e provas de que a infração foi cometida”, ressalta.

Os problemas tendem a aumentar no período de férias de acordo com o perfil da moradia. Os chamados condomínios clube geralmente são bem estruturados para receber as crianças com espaços específicos para lazer.

Mesmo assim, a circulação do grupo aumenta nessa época do ano, podendo ocasionar mais conflitos. A sugestão é que sejam propostas atividades para o público infantil ou contratada uma empresa de recreação que vai desenvolver atividades e ajudar a entreter os pequenos moradores.

A função de síndico demanda várias habilidades. “Precisa ter um pouco de engenheiro, de advogado, de administrador, de psicólogo. Tudo isso é importante, o síndico não precisa ser nenhum especialista, mas hoje temos muito a questão do síndico ‘psicólogo’ ou síndico que é um gestor”, afirma.

Desde a pandemia, a dinâmica dentro dos condomínios ficou muito mais intensa, o que ocasionou mais atritos entre vizinhos, que acabaram passando mais tempo em casa. Do lado do síndico, a nova realidade se tornou em muitos casos uma das principais dores de cabeça que é mediar os conflitos de quem trabalha em home office, por exemplo, com as obras que ocorrem durante o dia.

“Às vezes o morador está trabalhando em home office e o vizinho está fazendo uma reforma muito grande no horário permitido. É importante que exista bom senso e que quando necessário se chegue a um acordo entre as partes para que seja possível quem está trabalhando participar de uma reunião”, avalia.

Outro tema que pode gerar discórdia são os pets, em especial cachorros. Conforme Paim, não é recomendado proibir aos moradores que tenham um animal de estimação, mas devem ser estipuladas as regras e aplicar multas quando elas não forem cumpridas.