A maior dor de cabeça dos condomínios está no bolso
Daniel Nahas*
Se você mora em um prédio, responda com sinceridade: alguma vez te bateu o real desejo de assumir o cargo de síndico? E se pudesse transferir a função pra outra pessoa que apresentasse capacidade, vontade e tempo de exercer o ofício, você aceitaria entregar o mandato? Não é preciso tanto esforço pra concluir que a tarefa de ser síndico de um prédio costuma ser inglória, ao mesmo tempo que não é pra todo mundo.
Até porque o papel da administração é mais complexo do que se pode imaginar. É na figura do síndico que se concentram problemas como conflitos entre vizinhos, cano estourado, infiltração de um andar para o outro, gestão dos funcionários do prédio, e por aí vai. Mas nada, absolutamente nada disso consegue ser maior do que a gestão financeira do local. Discorda? Pois é o que mostra o Panorama dos Condomínios Brasileiros, pesquisa da TownSq, empresa que oferece aplicativos e ferramentas de gestão de condomínios.
O resultado foi divulgado no início de maio. E ele aponta que a maior parte dos 300 moradores e síndicos de condomínios em todo o Brasil tem nas finanças o desafio número 1 desses gestores. Essa parcela engloba 25,3% dos entrevistados. A segunda reclamação é a administração do condomínio (16,7%), as obras e manutenções (15,7%), a convivência (14,7%) e a equipe de gestão (7%).
Um detalhe curioso é que a pesquisa ajuda a mostrar também, de certa forma, por que somente os síndicos perdem o sono e os cabelos com a administração, enquanto os vizinhos dormem tranquilamente. Ao dividir o público entre síndicos de um lado e moradores e funcionários de outro, percebe-se uma mudança de cenário. A questão financeira é o principal problema para 30% dos síndicos, ao passo que, para o segundo grupo, essa é a principal dor de cabeça para 20,7% dos moradores e funcionários. Para estes, o maior problema mesmo é a administração do condomínio (21,3%).
Isso sugere que há um desarranjo, para não dizer rivalidade, entre o que o administrador precisa priorizar e o que o restante do condomínio entende que deve ser priorizado. Nem sempre esse diálogo acontece com absoluta clareza, ou, pior, desperta real interesse dos vizinhos. O resultado é que o nível de exigência sobre como o espaço deveria ser gerido muitas vezes é incompatível com o que tem no caixa. Talvez por essa razão, seja relativamente normal deparar com condôminos que alimentam uma rusga com o síndico ou com o administrador do prédio.
E aí é que talvez esteja a principal utilidade da pesquisa da TownSq. É importante cultivar uma gestão condominial cada vez mais transparente e compartilhada, ao menos no sentido de conscientização, de modo que todos os moradores compreendam o quanto as finanças devem ser tratadas com o mesmo grau de relevância, e o quanto as decisões coletivas podem e devem interferir na administração de seus próprios espaços. Falar a mesma língua, no fim das contas, é uma medida bastante saudável para o condomínio... e para o próprio síndico!
*MBA em gestão empresarial, especialista em administração de condomínio e CEO da Administradora Casa, empresa especializada em administração de condomínios na região metropolitana de Belo Horizonte