Fornecimento de água de poço clandestino também está entre as acusações da polícia, que cumpriu mandado de busca e apreensão nesta segunda-feira
O síndico de um condomínio de Farroupilha foi preso preventivamente na manhã desta segunda-feira (12). Alexandre da Costa, 44 anos, será indiciado em investigação iniciada há mais de um ano, segundo a Polícia Civil. Ele é síndico do residencial desde 2015 e, segundo a polícia, é investigado por articular um esquema de fornecimento clandestino de água às 320 famílias do Alvorada I - condomínio que tem 16 blocos e cerca de 1,2 mil moradores, no bairro Monte Pascoal. Ele também foi preso sob suspeita de extorsão e ameaça. Segundo a polícia, Costa ameaçava cortar o abastecimento de água no caso de não pagamento da água, que era feito diretamente para ele e também constrangia quem não aderisse regras impostas por ele.
— São 8.767 condutas passíveis de serem enquadradas como crime. Dentre elas, as cobranças de taxas de água, falsificação de documentos e ameaças aos moradores — afirmou o delegado Éderson Bilhan, que coordenou a operação deflagrada por volta das 6h30min.
As buscas desta manhã incluíram o apartamento do subsíndico, que fica em outro bloco, no mesmo condomínio, e a portaria. Um dos objetivos da polícia era encontrar procurações que, segundo o delegado, teriam assinaturas de moradores falsificadas, concedendo ao suspeito representação de voto em assembleia. Conforme Bilhan, esta era uma forma do síndico perpetuar-se na gestão do condomínio e também aprovar medidas que garantiam benefício próprio.
Na portaria, diversos monitores exibiam imagens de câmeras de segurança instaladas em diferentes pontos, incluindo estabelecimentos de fora da cidade. O delegado afirmou que o espaço vinha sendo utilizado como central de monitoramento da empresa de vigilância que é de propriedade do síndico.
Foram apreendidos cinco veículos da empresa, que também é contratada pelo próprio condomínio. Um imóvel no nome do síndico, localizado em Arroio do Sal foi bloqueado.
— Constatamos que, no período de gestão dele, foram movimentados mais de R$ 2 milhões, sendo cerca de R$ 500 mil faturados de forma indevida e que equivalem aos bens apreendidos — explicou o delegado.
Em entrevista concedida no momento da abordagem, Costa disse que a portaria era utilizada apenas como ponto de apoio para a empresa de vigilância. Ele confirmou o sistema paralelo de fornecimento de água e disse que era de conhecimento dos moradores.
— Na pandemia muitos moradores não pagaram suas contas, não ia ter dinheiro pra pagar água pra Corsan, todos moradores ficariam sem água. Então a minha ideia foi montar a estrutura com poço artesiano pra que, até conseguir regularizar a situação, a gente conseguisse pagar a divida da Corsan — relatou, afirmando que a taxa cobrada dos moradores vinha sendo revertida para melhorias no condomínio e que buscava a regularização do poço artesiano no âmbito legal.
As investigações da polícia iniciadas a partir de denúncias de moradores constataram ainda que, após assumir a gestão do condomínio, o suspeito criou uma empresa de zeladoria, portaria e limpeza que passou a prestar serviço ao próprio condomínio. Ele recebia dois salários: o do condomínio somado ao da empresa.
— A dedicação ao condomínio é 100%, não tenho outro trabalho fora — justificou o suspeito ao ser questionado sobre os honorários.
Conforme a polícia, a empresa de zeladoria — que está no nome da esposa de Costa mas que, na prática, é administrada por ele — recebia R$ 36.370,35 pelos serviços prestados e, segundo o delegado, há indícios de superfaturamento. O suspeito negou demais acusações como ameça e falsificação, que também estão sendo elencadas pela polícia.
O prazo para fechamento do inquérito a partir da prisão preventiva é de 10 dias. Segundo Bilhan, ainda serão ouvidas testemunhas e moradores dos prédios que foram construídos em 2013, pelo programa federal de habitação "Minha Casa, Minha Vida".