Vizinha tentou impedir que Giordana Leite gravasse vídeos na área do residencial
A professora de dança Giordana Leite, de 27 anos, no apartamento em que mora, em João Pessoa, no último dia 28 de maio, quando o companheiro dela foi surpreendido, por volta da 1h40, com mensagens em um grupo destinado para a comunicação dos moradores do condomínio. Segundo ela, uma vizinha pediu que ela deixasse de gravar as coreografias, que usa para divulgar as aulas nas redes sociais, dentro do residencial (ouça o áudio acima e leia o texto abaixo).
“A mesma está fazendo vídeos com danças obscenas e explícitas dentro do condomínio em todos os lugares onde dão acesso para nós proprietários e moradores. Onde há uma movimentação de circulação de senhoras, adolescentes e crianças constante [...]. Não tenho ciúme nem qualquer outra coisa, até porque não tenho marido, mas tenho três netas. E acredito que devemos preservar a integridade de nossa família”, dizem trechos da mensagem enviada pela vizinha de Giordana.
Junto aos textos, a moradora também enviou links dos vídeos que a professora de dança publica em um perfil de redes sociais. Além dos argumentos expostos por ela no texto acima, a mulher também justifica o pedido com a alegação de que, como as imagens são gravadas em espaços do condomínio, o local estaria sendo exposto de forma inadequada.
Giordana informou que mora no condomínio há três anos. Ela tem um estúdio de dança localizado em Campina Grande, que está fechado desde o início da pandemia. Por isso, a internet é o principal meio de trabalho para ela no momento.
Os pais dela moram no prédio e também viram as mensagens da vizinha. Ela disse que durante as gravações geralmente não era vista por outros moradores e que não ouve as músicas em volume alto. Informou, ainda, que não cita o local em mora nos vídeos.
Em um áudio, em resposta para o companheiro da professora de dança, a vizinha chega a dizer que tem uma parente que é policial federal e que está “diretamente ligada ao conselho tutelar”. E que, por isso, vai tomar providências quanto ao assunto.
O G1 entrou em contato com o síndico do prédio no último dia 8 de junho, que informou que o jurídico do local falaria sobre o caso. Já o setor jurídico disse que a administração do prédio emitiria um comunidade. Mas até a publicação desta reportagem, não houve retorno.
Giordana disse que o condomínio ofereceu a ela a opção de gravar no salão de festas para não ser incomodada. Ela lamentou, ainda, pela forma com que foi exposta para os outros moradores.
“Só faltou me chamar de prostituta, só não usou essa palavra mesmo. Disse que eu fosse procurar meu lugar de profissão, que eu fosse trabalhar em casa de show”, relatou.
A professora de dança também passou a se preocupar com outros comportamentos da vizinha, os quais ela considera como perseguição.
“Ontem dei uma aula online, e escutei uma zuada [barulho] na minha porta. Quando eu abri a janela, tava ela, a filha dela [...] tudo na minha janela falando. Já tá sendo perseguição, uma coisa horrível”, descreveu.
No dia em que foi surpreendia com as mensagens, ela denunciou o caso para a Polícia Civil da Paraíba por meio da delegacia online, com um boletim de ocorrência registrado por meio da internet. Com as novas situações, ela esteve na delegacia para conversar pessoalmente com um delegado.
A professora de dança também disse que. na última sexta-feira (12), foi advertida por meio de uma carta, que a impede de dançar nas comuns do condomínio. E, que em caso de reincidência, ela pode pagar uma multa, cujo valor não foi informado no documento.
Por fim, ela lamentou pelo o que aconteceu mais uma vez, lembrando que faz as gravações há anos e não teve problemas desse tipo.
“É horrível esse tipo de situação, faz você refletir. ‘Quer dizer que eu não posso usar a roupa que eu quero e dançar? Me senti muito despeitada. Não consigo andar pelo condomínio. Me constrangi. Eu choro à noite por causa disso”, contou ao relatar problemas psicológicos causados pela situação.