Comerciantes seguem regras de associações para vender produtos. Alternativa tem ajudado pessoas que ficaram desempregadas com a crise.
Unir comodidade e segurança. Este é o principal motivo pelo qual os feirantes estão optando por oferecer seus produtos dentro de loteamentos residenciais em Sorocaba (SP). A prática tem agradado os moradores, que evitam filas e não precisam ir longe para abastecer o estoque de frutas, legumes e ainda fazer um happy hour. Há cerca de quatro meses a confeiteira Taís Picoli Narde da Rocha expandiu a venda de doces, que antes era feita somente por encomenda, e começou a oferecer seus produtos em uma barraca no condomínio Vilazul.
A iniciativa foi ideia do pai da Thaís, o comerciante Anilton Narde, que procurou o presidente da associação de moradores do local para oferecer o serviço.
"Todos que participam da feira precisam fazer um cadastro. Pego os documentos, placa do veículo e damos preferência para as famílias que trabalham juntas, e que têm uma experiência no ramo", explica Anilton. Além de doces, ele e a filha agora comercializam espetinhos de carne, queijos e pães caseiros. Mas o forte da barraca são os bolos em potes, que rendem uma venda semanal de 200 porções do doce. Thaís conta que, além de suprir a necessidade básica das famílias, o intuito é fazer com que tenham um momento de lazer.
"É como se fosse um happy hour mesmo e, com o tempo, vamos sentindo o que agrada ao pessoal e levamos somente o que interessa a eles." No condomínio, as barracas são montadas próximas a uma área verde, onde ficam dispostas mesas e cadeiras. Atualmente, os moradores contam diversas opções de produtos: churrasco, palmito recheado, banca de frutas, verduras, pastel e yakissoba.
“Prezamos pela boa convivência entre o pessoal que participa da feira e os moradores. Pedimos também que pratiquem preços justos, que não fujam da média dos supermercados”, conta o presidente da associação de moradores do loteamento, Marcelo Oliveira Rosado. Ele afirma que, entre os benefícios da feira semanal, está a comodidade aos moradores. “Muitos chegam do trabalho e podem comprar sem fila e até jantar por aqui.”
Oportunidade
Depois que a empresa onde trabalhava fechou as portas com a crise, em junho de 2015, Carolina Kalil Medina, que estava grávida, começou a fazer palmito recheado e vender para os vizinhos do loteamento onde mora, na zona norte de Sorocaba (SP). “Não imaginava fazer isso um dia e decidi testar. Como deu certo, o pessoal me chamou para participar da feira no condomínio.”
Quando o negócio começou a crescer, o técnico Ricardo Fernando Silva, marido de Carolina, passou a ajudar na preparação dos pratos. “Meu cunhado tem plantação de palmito, então fizemos uma parceria com ele”, conta Silva. Por semana, o casal vende cerca de 200 porções de palmito recheado em um food truck recém-adquirido.
O veículo é estacionado de segunda a sexta-feira em feiras dentro de condomínios e, aos finais de semana, o casal também faz eventos. “Se o ritmo de trabalho continuar crescendo, penso em negociar para sair da empresa onde estou e ficar somente com o food truck”, explica o técnico de rede.
Pastel de feira
Foi em busca de mais segurança que a família da supervisora Gabrielle Mayumi Higa, de 22 anos, optou por levar a barraca de pastel para a feira noturna do condomínio Ibiti do Paço, na Zona Industrial de Sorocaba, há cerca de dois anos e meio. De lá para cá, o rendimento só aumentou. A equipe, composta por cinco pessoas, costuma vender de 200 a 300 pastéis toda quinta-feira à noite, dependendo das condições do clima. “A única desvantagem é que só é permitida a entrada de moradores e não existe uma perspectiva de melhora muito grande”, explica.
A barraca de pastel Higa é uma das 14 disponíveis no Ibiti. Aberta das 18h às 22h, a feira também oferece frutas, verduras, crepes, churrasquinhos, hambúrgueres, bolos, doces, nhoque e artesanatos. Os preços, segundo o gerente administrativo do condomínio, Renato Henriques Gusmão, são bem próximos aos das feiras de rua.
O horário de maior movimento é das 19h às 20h, quando as pessoas já chegaram do trabalho e procuram algo para comer sem ter que ligar o fogão de casa. O tradicional sabor de carne, de acordo com a feirante, ainda é o mais vendido e, para quem não abre mão da sobremesa, o queridinho dos clientes é o pastel doce de chocolate ao leite com bombom.
Além do Ibiti do Paço, Mayumi e a família montam a barraca no condomínio Bosque Ipanema, na Zona Norte da cidade, às sextas-feiras. Durante a semana, estão nas feiras matutinas do Fórum Velho, Vila Santana, Mangal, Mercado Distrital e Maria Eugênia.
Dos seis mil moradores do Ibiti, cerca de 600 têm o costume de frequentar a feira noturna toda semana. “As vantagens são a comodidade, por estar dentro do seu residencial, e o convívio entre os vizinhos”, comenta o gerente. Os feirantes são os próprios moradores, pessoas indicadas pelos moradores ou outros interessados e, até o momento, o condomínio não cobra nenhuma taxa dos trabalhadores.