Startup usa inteligência artificial em câmeras de segurança para proteger moradores de condomínios
Uma câmera de segurança inteligente, capaz de identificar movimentos suspeitos de forma automática. Essa é a proposta dos aparelhos desenvolvidos pela Gabriel, startup criada para proteger moradores de condomínios por meio da inteligência artificial. Hoje, a tecnologia está presente em 600 câmeras instaladas em bairros do Rio de Janeiro, como Leblon e Ipanema, e deve chegar a São Paulo ainda neste semestre.
Otávio Miranda, cofundador da Gabriel, conta que a ideia surgiu na China, onde morou por cinco anos. Lá, viu o país passar por uma transformação digital radical. Quando chegou, em 2014, pagou seu aluguel com uma mala de dinheiro. Um ano depois, fez a transferência via aplicativo e nunca mais sacou uma nota em papel nos anos seguintes. Parte dessa transformação também se deu na questão da segurança - hoje, a China é considerada uma referência em automação e uso de tecnologia avançada para a segurança pública.
Mesmo assim, Miranda levou anos até tirar o negócio do papel. Enquanto esteve na China, estudou e trabalhou em diversas empresas de tecnologia e ajudou negócios a iniciarem suas operações no Brasil. Em paralelo a isso, conheceu Erick Coser, brasileiro que também morava por lá. Juntos, criaram uma amizade e a certeza de que gostariam de empreender juntos, muito provavelmente no seu país natal.
Quando voltaram, não sabiam por onde começar, apenas tinham a certeza de que queriam abrir um negócio. “Começamos a olhar mercados diferentes, sempre com a tese de que os chineses criaram produtos digitais com uma penetração profunda na classe média. A partir disso, começamos a explorar modelos de negócios”, afirma.
Nesse momento, os dois empreendedores foram selecionados pelo fundo Canary, para um programa de residência com futuros empresários. Lá, concluíram que o mercado de segurança guardava boas oportunidades. “É um mercado deprimido em soluções de tecnologia e com uma demanda gigantesca. Hoje, são muitas as fintechs, healthtechs, edtechs… Mas onde estão as de segurança?”, diz Miranda.
Assim, nasceu a Gabriel. Basicamente, a startup usa a tecnologia para automatizar e identificar comportamentos suspeitos. Por exemplo, o sistema é capaz de reconhecer se uma pessoa está onde não deveria ou se comportando de maneira fora do padrão - como entrar em um local não permitido ou pular um muro. A partir dessa informação, ele emite um alerta que é checado pela central da Gabriel e, caso necessário, passado às autoridades de segurança pública.
O sistema da startup funciona em rede, então quanto mais condomínios adotarem as câmeras da Gabriel em uma rua, por exemplo, mais informações cruzadas e mais dados aquela base terá acesso.
Em um vídeo que Miranda usa de exemplo, é possível retomar os passos de um assaltante cruzando imagens de diferentes câmeras em diversos prédios. “O que seria um trabalho de semanas para a polícia, que teria que ir atrás de cada prédio, solicitar as imagens uma a uma, a gente fez em horas”, diz o empresário.
O formato em rede também está alinhado com o modelo de negócio da empresa. Hoje, quando a startup pretende vender seu serviço em uma rua, ela faz uma pesquisa para identificar o “principal” condomínio da região e oferecer o produto. Caso a venda aconteça, a empresa incentiva o síndico a compartilhar a novidade com colegas da região, com o argumento de que quanto mais câmeras, mais seguro se torna o espaço. “É literalmente construir uma rede de edifícios”, afirma Miranda.
A empresa cobra uma mensalidade variável por projeto. Um projeto básico, com seis câmeras (três externas e três internas) pode sair, em média, R$ 490. A central atende 24 horas e toda a tecnologia é armazenada em nuvem. Em janeiro do ano passado, a empresa levantou uma rodada de US$ 1,75 milhão com a Canary. Em 2021, espera abrir uma nova rodada e também trazer os negócios para a capital paulista. “No Rio, a ideia foi iniciar a operação em uma cidade que pede por mais segurança. Agora, sentimos que é hora expandir em outras regiões da cidade, mas não só. Queremos chegar a São Paulo ainda no primeiro semestre deste ano”, diz.
Uma das preocupações da Gabriel é garantir que o viés da inteligência artificial usada no seu software não cometa nenhum tipo de injustiça, como atos de racismo. Para isso, a empresa garante que o foco da tecnologia é na ação - e não na pessoa. “O alerta é emitido quando alguém entra em um espaço que não deveria, independentemente de quem ela seja”, explica. A segunda verificação é humana, que avalia o alerta. “Não é automação plena, é híbrida. Sou contra a automação absoluta, porque acredito na importância do componente humano”.