Sustentabilidade

Pandemia prejudica coleta seletiva de resíduos sólidos na capital baiana

Mesmo com a remoção dos PEVs (pontos de entrega voluntária) e a grande redução nas atividades dos catadores, a bióloga Maria Auxiliadora Costa, 55 anos, continua separando o lixo reciclável. Antes, ela tinha algumas opções para o descarte, mas com a pandemia de Covid-19 sobrou apenas o Ecoponto atrás do Hiperposto, onde costuma ir periodicamente.

“A coleta, que já era mínima, cessou completamente. O Vale Luz Coelba (ver coordenada) não está mais coletando, as catadoras que passavam por aqui não passam mais”, conta Maria, sobre as alternativas perdidas. A bióloga considera que a ausência de um sistema no qual os resíduos recicláveis sejam coletados nos logradouros, a exemplo do que ocorre com o lixo comum, acaba por desestimular a adesão de mais pessoas.

Maria bem sabe o quanto motivar a separação do lixo pode ser difícil, tanto que tentou implantar no local de trabalho e acabou se contentando em apenas separar pilhas. Para ela, no entanto, reciclar é essencial. “É como o ar que eu respiro. Não consigo viver sem separar o lixo que produzo. E catequizo todos que estão próximos de mim”, reforça.

O Ecoponto citado por Maria também é onde Flávia Bahia, 39 anos, funcionária pública, tem levado seus recicláveis nos últimos 45 dias, com frequência quinzenal. Antes, ela contava com a parceria firmada entre o condomínio e uma rede de catadores, intermediado pela zeladora do prédio, mas também recorria a outros pontos para descartes específicos, como de pilhas, remédios e eletrônicos.

Flávia considera que a pandemia facilitou a separação dos resíduos em sua casa, pelo menos no período no qual esteve em home office (até junho) e pôde liberar a diarista, que resiste a separar, lavar e limpar os recicláveis.

Com a suspensão do acesso de catadores a condomínios, ela passou um período acumulando material em casa e no carro, até ficar sabendo do Ecoponto, que recebe quase todos os produtos recicláveis.

“Processo de reciclagem vai partir sempre muito mais de interesse, consciência, boa vontade, porque demanda tempo, espaço em casa, disponibilidade...não é uma coisa fácil. É importante que o cidadão tenha consciência da importância de fazer esse trabalho”, pondera Flávia, sobre o modelo de recolhimento dos resíduos.

Mesmo antes da pandemia, a promotora Cristina Seixas, do Ministério Público da Bahia, vem acompanhando as discussões em torno da gestão dos resíduos sólidos em Salvador.

Com a pandemia, um procedimento foi instaurado para abordar especificamente o tratamento dos resíduos provenientes de casas com pessoas infectadas pelo coronavírus, mas as informações ainda estão sendo fornecidas.

Meta

Cristina explica que a meta é que o município tenha um planejamento, que inclua os catadores e um trabalho de logística reversa, se alinhando às leis existentes.

“As políticas nacional e estadual de meio ambiente estabelecem que o poder público deve gerenciar os resíduos sólidos com essa visão, de redução, reutilização, reciclagem, destinação final adequada de resíduos e de rejeitos”, explica.

A promotora detalha que esse planejamento passa pela educação ambiental e conscientização da população para o descarte adequado dos recicláveis incluir o suporte para que as cooperativas possam fazer essa coleta porta a porta, além da distribuição de PEVs em locais protegidos.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Renovação e Resiliência (Secis) afirmou que a Limpurb possui equipes de educação ambiental que orientam o cidadão na gestão dos seus resíduos, o que é reforçado por publicações nas redes sociais da prefeitura. O texto também sinalizou a inexistência de projetos que transformem a coleta de recicláveis num serviço porta a porta, similar ao que é realizado com o lixo comum.

Justificativa

Sobre os aspectos que motivaram a suspensão do Programa de Coleta Seletiva de Salvador, por nota, a pasta argumentou que “o debate foi sobre priorizar e preservar a vida dos catadores cooperados e de suas famílias, considerando que o resíduo é um vetor real de transmissão do coronavírus”.

A Secis informou que não há previsão para retomada do programa, que era constituído por 50 PEVs e tinha recolhimento de cerca de 30 toneladas/mês.

Projeto Vale Luz da Coelba retoma as atividades

Baseado na oferta de descontos na conta de luz em troca de materiais recicláveis, o projeto Vale Luz da Coelba foi retomado no último dia 7, segundo a assessoria de comunicação da empresa.

Por meio de nota, a Coelba informa que a equipe está fazendo contato com os condomínios atendidos antes da suspensão para fazer a programação de coleta nesses locais.

O texto informa que o projeto tinha sido suspenso no dia 18 de março, mas “voltou alinhado à reabertura gradual das atividades econômicas no estado, cumprindo protocolos de segurança e prevenção à Covid-19”.

No momento, Salvador conta com os postos fixos do Salvador Shopping, Salvador Norte Shopping e Estação Pirajá do Metro.

Nos shoppings, o modelo implantado é de drive-thru, no qual o cliente se aproxima de carro, o agente do projeto retira os resíduos e faz a pesagem.

Materiais

O Vale Luz aceita papelão, papel de escritório, jornais, garrafas PET, sacos plásticos, embalagens de produtos de limpeza, baldes, mesas plásticas, latas de refrigerantes e de outros produtos alimentícios, e lixo eletrônico.

A população também pode entregar óleo de cozinha, que deverá estar filtrado e armazenado em uma garrafa PET transparente.

As empresas e condomínios interessados em participar do projeto devem enviar um pedido para o e-mail eficiencia@neoenergia.com com as fichas de inscrição preenchidas. O documento está disponível no site.

A equipe entrará em contato para verificar o atendimento das condições exigidas: não ter vínculo com cooperativas de catadores, ter a prática de separação dos resíduos sólidos e ter área para acesso do caminhão do projeto.