Moradores da GV apostam em vendas nos próprios condomínios
Empreender muitas vezes pode significar dar a volta por cima, mesmo diante das situações mais adversas. Com os impactos da pandemia no cotidiano da população, muitas pessoas se viram sem emprego e sem a possibilidade de sair de casa, em função das medidas de isolamento social. Foi assim que nasceram muitos empreendedores em condomínios da Grande Vitória. E a boa notícia é que, além de trabalharem em casa, eles hoje ganham mais do que quando estavam empregados.
Isso porque uniram qualidade à entrega em domicílio, requisitos fundamentais em nossos dias para o sucesso de um negócio. Outro ponto em comum a esses novos negócios é a divulgação em meios digitais, como grupos de WhatsApp com moradores do próprio condomínio e o Instagram, por exemplo. “Mesmo no cenário em que estamos vivendo, as pessoas continuam consumindo, ainda que em menor escala ou num perfil diferente. É preciso utilizar as ferramentas disponíveis e, como o mercado de delivery cresceu, é bastante vantajoso ter um fornecedor dentro do próprio condomínio, que entregue na porta do cliente”, avaliou o analista do Sebrae ES Carlos Perrin.
Foi com essa certeza que Kelly Ramos começou a empreender no condomínio onde mora, na Serra. A paulista, de 37 anos, mora no mesmo lugar desde que se mudou da São Paulo para o Espírito Santo, em 2017. “Vim devido à uma transferência de meu esposo, e comecei a trabalhar no financeiro de uma franquia de comida chinesa no ano passado. Mas quando veio a pandemia, fui dispensada”, contou.
Para complementar a renda da família, a microempreendedora individual (MEI), que já vendia roupas íntimas femininas, passou também a preparar e comercializar lanches, além de bebidas, no condomínio em que mora, que conta com mais de 500 unidades habitacionais. “Os vizinhos consomem bastante, o que tem ajudado muito. A renda melhorou em relação ao tempo em que trabalhava fora. Para ter uma ideia, pago o aluguel e a escola da minha filha com a renda do meu empreendimento, o KLS Burguer, e chego a vender cerca de 60 lanches por semana e 90 unidades de bebidas. Quanto às roupas íntimas, chego a comercializar de 30 a 40 peças por mês”, comemora a MEI.
A situação se repete em um grande condomínio de Campo Grande, com cerca de 600 apartamentos, onde Josiane de Souza Estevão, 42 anos, também foi demitida de uma escola particular, onde trabalhava na secretaria, devido aos impactos do coronavírus. Ela, que teve um restaurante no passado, não pensou duas vezes, e começou a fazer escondidinho e panquecas para vender no condomínio. Com o sucesso, o cardápio logo cresceu, e já conta com opções como caldos, bobós, salpicão, feijão tropeiro e até marmita completa.
“Estou ganhando bem mais do que quando trabalhava fora. Se eu puder dar um recado a quem vive o desemprego e a necessidade de ter renda é: vale a pena tentar. Procure um dom e uma experiência que já tenha. Fazendo com qualidade a pessoa pode ir longe. Estou muito feliz, fazendo o que gosto”, conta a empreendedora, que comercializa uma média de 100 pratos de alimentos variados por semana.
A comodidade de ter um fornecedor no lugar onde se mora não se resume a mercadorias como roupas e alimentos. Em busca de soluções para fugir da crise, Elza de Azevedo Bello também começou a apostar na clientela de seu condomínio, com 64 casas e 520 apartamentos, na Serra. Antes da pandemia, ela trabalhava em um petshop onde oferecia os serviços de banho e tosa. Como a empresa em que operava já passava por dificuldades, a chegada do coronavírus culminou em sua demissão. Para manter a renda, Elza começou a divulgar, por conta própria, os serviços de banho e tosa nos grupos de WhatsApp de seu condomínio.
“Mantive os materiais que utilizava previamente e comecei a oferecer um preço atrativo para os clientes. Tem dado muito certo e, no momento, estou ganhando mais do que recebia no meu antigo trabalho”, afirma Elza, que cuida dos pets dos vizinhos. Elza ainda aponta que, com a pandemia, a necessidade de segurança e praticidade por parte da clientela tem sido fundamental na hora de optar por seus serviços. “Por estar trabalhando onde moro, tudo ficou mais fácil por conta da proximidade. Venho seguindo todas as normas de saúde e os vizinhos estão usufruindo um serviço prático e seguro para os seus pets”, garante.
O analista do Sebrae ES Carlos Perrin destaca a importância de seguir todas as normas de saúde, independente da atividade. “É necessário verificar com órgãos como a vigilância sanitária, os procedimentos necessários para cada atividade. Agora, mais do que nunca, é preciso tomar todo cuidado para evitar contaminação. Também não se pode esquecer de consultar as regras do próprio condomínio”, alerta.
Quanto à divulgação, Carlos reforça a importância do uso de aplicativos e das mídias sociais, mas não descarta a relevância dos meios tradicionais. “Além dos grupos de WhatsApp com os vizinhos, é importante atraí-los para seguirem as suas redes sociais. Mas não podemos esquecer que comunicados impressos, fixados em pontos estratégicos do condomínio, também podem ajudar a atrair muitos clientes”, explica o analista.