Construção de moradia popular foi embargada por sete dias após índios denunciarem suposto desmate irregular. Construtora afirma que obra segue projeto aprovado pela administração municipal

 

A Prefeitura de São Paulo embargou nesta terça-feira (4) a obra de um condomínio no Jaraguá, na Zona Norte de São Paulo, que é vizinho de comunidades indígenas. Cerca de trinta índios da etnia Guarani Mbya ocuparam na última quinta-feira (30) o terreno da construtora Tenda em protesto contra a derrubada de árvores nativas do espaço.

A obra fica em uma área entre a Rodovia dos Bandeirantes e o Parque do Jaraguá. O projeto do condomínio de apartamentos para a população de baixa renda prevê a derrubada de 528 árvores na área. Como compensação, a Prefeitura de São Paulo determinou o plantio de 549 mudas no local e a doação de outras 1.100.

Indígenas ocupam terreno particular no Jaraguá para protestar contra a derrubada de árvores
No entanto, líderes indígenas dizem que o desmate foi maior do que o aprovado pela administração municipal. "Para nós eles falaram em 4 mil árvores derrubadas", afirma Thiago Henrique Karai Djekuep, líder indígena.

Em nota, a prefeitura disse que a obra está de acordo com a lei, mas que o embargo vale por sete dias, prazo que os índios têm para provar eventuais irregularidades no empreendimento.

Protesto indígena

Além do desmate, os índios da região temem ainda que a construção invada as margens do Ribeirão Vermelho e, por isso, começaram a plantar mudas na área.

"A gente veio pra cá em luto. Aqui pra nós virou cemitério de árvores e não vamos aceitar que nenhuma outra árvore seja cortada aqui", afirma o líder Thiago Henrique Karai Djekuep.

Defensores do Parque Jaraguá acreditam que é possível uma solução negociada entre representantes do condomínio e grupos de índios.

"É impossível, em pleno século 21, não haver diálogo antes de iniciar uma obra numa área tão frágil quanto o entorno do Pico do Jaraguá", lamenta Edson Domingues, do Movimento de Defesa do Parque do Jaraguá.

A construtora Tenda, responsável pela obra, afirma que vai respeitar as determinações judiciais.

"Mais de 50% do terreno já está sendo destinado para áreas verdes. O restante da área está sendo para moradias populares, que também é uma carência da região", explica Daniela Ferrari Toscano de Britto, diretor de negócios da Tenda.