Trabalho da portaria

Caso Marielle traz de volta ao debate o controle do acesso em condomínio

Desde que vieram à tona as informações do caso Marielle Franco envolvendo a divulgação dos registros do controle de acesso de visitantes ao condomínio onde vive um dos acusados pelo crime – com direito a gravação de áudio do sistema de telefonia interna, imagens de câmera e planilha detalhada com o fluxo de entrada e saída de carros e pedestres –, administradores, síndicos e moradores em residenciais voltaram a discutir o tema, em especial com a aproximação do fim do ano e o período de festas.

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem de A TARDE, já há caso em que os próprios agentes de portaria solicitaram da administração reunião para poder discutir o assunto, visando rever normativos e se garantir contra eventuais “problemas com a Justiça”. Para o gerente de negócios da Apsa para o Nordeste, Alex Fabiano, o episódio em questão demonstrou a importância de um maior rigor na verificação e gestão dos dados de quem circula em um condomínio, independentemente do porte, ele diz.

“Estatísticas apontam que o maior perigo está concentrado em prédios com entre 10 e 20 unidades, ou seja, de pequeno e médio portes. Pois um lugar com 80 (apartamentos) já dificulta um pouco para ele (quem invade); tem muito morador, o fluxo de pessoas é grande”.

Fabiano até cita alguns recursos tecnológicos de segurança hoje à disposição dos empreendimentos, tais como dispositivo de leitura facial, biometria, câmera de vídeo com sensor de calor e até a chamada portaria virtual, ou a distância, mas, para ele, a grande questão a ser “trabalhada” é mesmo a qualificação de pessoal (da mão de obra), afirma.

“Ainda há muito amadorismo e falta de seriedade no controle de acesso de visitantes, em especial em condomínios menores. Os porteiros são amigos, flexíveis. O mais correto nessa hora é treinar, investir em qualificação, reciclagem. Com foco na segurança”, conta ele.

Período de festas

Em tempo, foi a riqueza de detalhes contida nas planilhas de verificação do condomínio – com nome do visitante; modelo, cor e placa do veículo; casa de destino; horário de entrada e de saída; número de identidade e de quem foi a autorização para entrar – que levou a polícia a concluir que, de janeiro a outubro de 2018 (a vereadora foi assassinada em 14 de março), o outro acusado de participar do homicídio visitou o local ao menos 12 vezes.

Para o síndico profissional e gestor de propriedades urbanas Rildo Oliveira, é de fundamental importância dedicar a devida atenção à identificação de visitantes, em particular a bordo de veículos e em períodos de festas. À frente de três condomínios, Oliveira diz que carro “não é sinônimo de passe livre” e que todos ocupantes devem ser identificados.

“Porteiro não pode dar bobeira. Esta semana mesmo ministramos treinamento com parte da equipe. O investimento em infraestrutura, como muros e cercas, e em sistema de circuito interno de vídeo com câmeras modernas também é um importante aliado da segurança predial. Todas as áreas precisam estar protegidas”.

Sócia-diretora da empresa especializada em gestão condominial Otimize, Carla Assis destaca que condomínios maiores, como os do tipo “clube”, já utilizam catraca eletrônica e até câmera que reconhece placa veicular para facilitar a identificação de quem entra e sai, mas lembra que o melhor antídoto contra a insegurança é a qualificação dos funcionários de portaria. “É investimento em infraestrutura e tecnologia, além de treinamento”, diz.

Presidente do Sindicato da Habitação na Bahia (Secovi), Kelsor Fernandes conta que a entidade promoveu ao menos três cursos de capacitação de agente de portaria ao longo do ano, todos com foco em segurança – sendo um deles em parceria com a Polícia Militar da Bahia. Segundo Fernandes, de um modo geral, a maioria dos grandes condomínios já adotam sistema de gravação de imagem, e um cuidado maior é preciso dar aos procedimentos de portaria.

“Com a violência nas grandes cidades não dá para descuidar da vigilância. A aproximação do final do ano também é um momento crucial, em que a atenção precisa ser redobrada. Sempre que posso, alerto para esse tema. É preciso ficar de olho na circulação de estranhos nas dependências, seja entregador, prestador de serviço, e comunicar a portaria qualquer suspeita”.

VIGILÂNCIA REDOBRADA
Disfarce: Uma das formas mais usadas para invadir um condomínio é o disfarce, seja de entregador, prestador de serviço ou visitante

Tecnologia: É uma aliada do monitoramento do controle de acesso dos prédios residenciais. Os equipamentos mais usados são cerca elétrica, circuito de TV, alarme, sensor de presença, guarita blindada, entre outros

Capacitação: Após a contratação, porteiros e funcionários precisam ser treinados para conhecer as regras, mas o aprendizado não deve parar aí