Telar janelas e sacadas é fundamental
Se há uma coisa que gosto muito, é de bicho. Alguns proprietários, até pouco tempo atrás, eram terminantemente contra a existência de animais no condomínio. Mas, com a decisão do STJ em maio deste ano, aqueles que não gostam tiveram que aceitar, afinal a convenção do condomínio está abaixo, bem abaixo da Constituição Federal, e esta garante a liberdade dos condôminos em ter seus bichos nas suas unidades.
Desde então, alguns se sentiram livres para agregar esses seres especiais em suas famílias, sem medo da cara feia dos vizinhos. Dona Elizabete do 604, bloco B, adotou um gato de rua. Felix, meio mourisco, bastante arisco.
Falaram que ela não precisava colocar tela nas janelas e varandas, pois Felix sendo um gato de rua era safo e não ia ter perigo de cair. Bom, ele caiu.
Até ontem eu nunca tinha ouvido falar do gato da dona Elizabete. Pois bem, estava eu concluindo uma vistoria nas áreas comuns com Irene, nossa líder da limpeza, quando vi a agitação no pátio do condomínio entre as torres. Dona Elizabete chorava numa visível agonia. Explicou-me que passou o dia todo fora e quando chegou em casa não encontrou o gato. Ouvia seus miados abafados, mas ele não estava em lugar nenhum. Imaginou que ele tivesse descido para a sacada do quinto andar. Chegou a tocar a campainha da vizinha de baixo para verificar se o gato não estava lá. Não estava. Os miados continuavam. Isabela se compadeceu e desceu para ajudar a procurar. Joel que era do outro bloco percebeu a movimentação e também quis ajudar. Jurandir, o zelador também estava na equipe de buscas e quando eu fui saber, metade do condomínio procurava o gato, guiado pelos miados desesperados que ninguém conseguia identificar de onde vinham.
Fizeram um pente fino pelo jardim, procuraram na garagem, e até nos arredores. Felix miava e todos ficavam parados quietos para decifrar a localização do miado, mas logo se calava e voltavam todos à estaca zero. Uma equipe subiu novamente ao apartamento para olhar de lá e tentar identificar pelo menos a direção que o gato poderia ter tomado.
Foi Jurandir que percebeu que um cantinho do telhado do espaço gourmet, lá embaixo, estava com um buraco. Desceram todos, alguns pelas escadas outros pelo elevador. Os que ficaram no pátio foram avisados e logo se juntaram num bolo de gente curiosa e preocupada. Todos na porta do espaço gourmet esperando Jurandir buscar a chave.
Dona Elisabete com a mão no peito respirava fundo, com medo do que encontraria, afinal uma queda de tantos metros seria impossível ele não ter se quebrado todo.
Quando finalmente Jurandir chegou com a chave e todos puderam entrar no local, perceberam lascas de telhas e sarrafos apodrecidos, aquele telhado era pra ser provisório e já fazia um ano, enfim, lá estava o gato. Passou por todos como um risco e saiu para o pátio e todos atrás. “Parem” gritou Elizabete. Pediu para ficarem em silêncio e longe, Felix era arisco e estava assustado, mas estava inteiro, aparentemente sem nenhum ferimento.
No pátio ele subiu um uma árvore, descendo de lá direto para os braços de Dona Elizabete, como se atendesse os apelos daquela que demostrava tanto amor.
Todos aplaudiram e eu pensei como que um gato fujão pôde fazer tanto pela união das pessoas no condomínio. Eu recomendo.
Martinha Silva é graduada em Administração, especialista em Gestão de Pessoas, gestora condominial em Itajaí e escritora.