Laudo feito pelo Instituto Falcão Bauer questiona qualidade das obras de reforço estrutural e necessidades de mais intervenções técnicas para garantir segurança de moradia. Construtora diz que não há risco
Um laudo feito pelo Instituto Falcão Bauer atesta que o condomínio com rachaduras no Morumbi, na zona Sul de São Paulo, não tem condições de moradia e de desinterdição. Os moradores estão fora de suas casas desde 19 de fevereiro deste ano, quando a Defesa Civil Municipal interditou o prédio por risco de desabamento.
O documento é assinado por três engenheiros e diz que “a nosso ver o edifício, apesar de já ter sofrido reforços nas fundações das torres e recomposição das paredes estruturais danificadas, ainda não oferece condições de segurança para seu uso, sob o aspecto estrutural.”
Depois da interdição, novas rachaduras apareceram (veja vídeo acima). Durante o período, a DMF Construtora, responsável pela construção do condomínio disse ao G1 que fez o escoramento, obra para reforçar a estrutura, por "liberalidade da construtora” e que “não há indícios de problema”.
Os peritos do Instituto Falcão Bauer, contratados pelo condomínio, contestam a informação e recomendam mais reforços estruturais. “A cortina que sustenta o maciço de terra do edifício Dijon, apesar de ter sido sua carga vertical aliviada não apresenta condições satisfatórias de estabilidade no que se refere a ação das cargas horizontais oriundas do maciço que está sendo contido.”
O documento afirma ainda que “em nosso entendimento a qualidade e a forma que foi executado este elemento não oferece segurança para a contenção do empuxo existente. Nossa conclusão para esta afirmação vem de vários fatores que foram observados e levantados durante nossa investigação.”
O laudo do Falcão Bauer ainda mostra uma análise de fotos da obra feita pela construtora durante a execução do projeto, apontando que as técnicas utilizadas “indicaram um procedimento não usual para este tipo de estrutura”.
A avaliação dos peritos indicam problema, em menor gravidade, no cortina do edifício Nice. Ela aponta que as estacas originais do projeto e as estacas de reforço feitas pela DMF Construtora recentemente “podem não estar trabalhando com aderência suficiente, e uma possível movimentação deste maciço trará cargas horizontais que podem prejudicar principalmente as novas estacas megas cravadas.”
Os peritos ainda falaram que há problemas nas lajes da garagem do terceiro subsolo. O último argumento apontado pelo laudo que no dia 24 de abril deste ano, após a DMF Construtora ter solicitado a liberação do prédio, “foi constatada uma fissura em parede estrutural da fachada do edifício Nice, que ainda está sob investigação e observação para análise de sua extensão e gravidade.”
Construtora diz que não há risco
O dono da construtura, o engenheiro Francisco Della Manna, informou ao G1 que foi feita uma “reunião com engenheiro do corpo diretivo do condomínio para ver o que seria feito. Ficou acordado o reforço das paredes comprometidas, o reforço das fundações". Ele garante que "Hoje, não há nenhum risco."
Della Manna afirmou ainda que as vistorias feitas pela construtora detectaram que 2 dos 6 apartamentos afetados com as rachaduras tiveram paredes estruturais retiradas pelos moradores em obras realizadas após a entrega do imóvel. “Foram retiradas paredes estruturais dois apartamentos em andares baixos nas prumadas onde houve os problemas”, disse.
O engenheiro afirmou também que a construção está apta a receber os moradores de volta.
De acordo com a empresa responsável pela construção do condomínio, o cronograma das obras de reforço estrutural no condomínio foi concluído em duas etapas: a primeira em 18 de abril e a segunda em 30 de abril.
Vida fora de casa
Enquanto isso, moradores que viviam no condomínio hoje precisam pagar aluguel de flats e outros apartamentos ou ter que morar em casa de parentes e amigos. Uma das moradoras, que não tem parentes em São Paulo, precisou se mudar para o Rio de Janeiro enquanto espera pelo fim da interdição do prédio.
Os moradores do condomínio, no entanto, contestam a cronologia apresentada pela construtora, informando que equipes da DMF Construtora estiveram no prédio até terça-feira (14) no local, mas não fizeram tudo que foi acordado em reuniões entre as partes.
Eles contrataram o Instituto Falcão Bauer para fazer perícias no condomínio. A empresa informou ao G1 que “nossos calculistas consideraram necessária ainda uma adequação no reforço executado nas cortinas de contenção (escoramento do prédio) no trecho do estacionamento para poderem liberar o prédio com segurança.”
“O condomínio continua interditado. Técnicos da Falcão Bauer [instituto contratado pelo condomínio para fazer perícias no prédio] encontraram uma trinca em um bloco estrutural, que precisa ser resolvido em uma das torres afetadas”, disse ao G1 o morador Conrad Elber Pinheiro, 40 anos.
A síndica do condomínio, Raquel Morgenstern, disse que não vai pedir o fim da interdição do prédio para a Defesa Civil Municipal de São Paulo com base em um documento da DMF Construtora. “O parecer da Falcão Bauer é que iremos confiar”, disse Raquel.
Ela disse que “nenhum engenheiro contratado para assessorar a construtora assinou o laudo, o documento foi assinado apenas pelo dono da construtora, o senhor Francisco Della Manna, que é diretamente interessado em desinterditar o prédio.”
A síndica informou que a DMF Construtora também não está pagando o auxílio moradia para quem foi desalojado. “A construtora não está pagando auxílio de moradia. Apenas algumas em juízo e outras eles estão protelando. Das 106 unidades, recebi informação de cinco unidades que receberam.”
A Subprefeitura Campo Limpo informou, em nota, que “aguarda que os reparos na estrutura do prédio sejam realizados pela construtora responsável para então realizar nova vistoria, juntamente com a Defesa Civil, e verificar a possibilidade de desinterdição.”
A Secretaria da Segurança Pública informou, em nota, que "o crime é investigado pelo 89º Distrito Policial (Jardim Taboão), que apura crime de periclitação da vida, que é colocar em risco a vida de outros. Testemunhas foram ouvidas e a autoridade policial aguarda a conclusão dos laudos periciais".