Síndicos da Praça Seca são obrigados por milicianos a pagar ?caixinha?
Motivo de constantes disputas entre tráfico e milícia, como a que aconteceu em 10 de abril, quando um tiroteio interrompeu a circulação do BRT, o controle da Favela Bateau Mouche, na Praça Seca, trocou mais uma vez de mãos. Paramilitares aproveitaram a saída de PMs, após uma ocupação que durou três dias, para dominar a comunidade. E passaram a ameaçar síndicos de condomínios da região, para que recolham R$ 50 de cada apartamento. Se os moradores não contribuem para a taxa mensal cobrada pelo grupo, os síndicos são coagidos a pagar do próprio bolso.
Há pelo menos um inquérito da 28ª DP (Campinho) que tenta identificar os responsáveis pela cobrança irregular da milícia. O caso tramita em sigilo para não atrapalhar as investigações. Segundo moradores, grupos de homens armados percorrem as ruas da região para anunciar a cobrança.
— Eles passam sempre após as 20h. Vão de casa em casa. No mês passado eram só dois ou três, mas, desta vez, vieram uns dez, todos armados, Tinha até uma mulher. Quando a cobrança é em condomínios, eles geralmente vão direto ao síndico — contou um morador.
Pedindo para não serem identificados, outros moradores da Praça Seca contaram que, depois que a milícia entrou no Bateau Mouche, os tiroteios cessaram.
— Desde a última guerra de abril, não tem mais tiros aqui na Praça Seca — disse um morador.
Outra pessoa que mora na região contou que, com a chegada da milícia, até pichações teriam sumido das paredes da entrada da comunidade.
Traficantes fugiram
Atualmente a milícia também já controla as comunidades do Morro da Barão, Chacrinha, Fubá, Campinho e Jordão. Os traficantes expulsos do Bateau Mouche buscaram abrigo no Morro da Covanca, em Jacarepaguá, que, através de uma mata, dá acesso à comunidade invadida pelos milicianos.
O EXTRA tentou ouvir a Polícia Militar sobre a invasão da milícia ao Bateau Mouche, após PMs terem saído da favela, mas, até o fim da tarde de ontem, não obteve resposta.
’General’ preso
Ontem, policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e de Inquéritos Policiais (Draco) prenderam em Santa Cruz Felipe Ferreira Carolino, o Zulu. Considerado o ‘‘general’’ das guerras promovidas por Wellington da Silva Braga, o Ecko, chefe da maior milícia do Rio, Zulu é apontado pela Draco como sendo o responsável por recrutar homens que foram cedidos por Ecko para reforçar um grupo paramilitar de Campinho na invasão à Favela Bateau Mouche.
Ele foi capturado com uma pistola. Os policiais também encontraram com o bandido um drone que seria usado por Zulu para monitorar a movimentação de policiais e inimigos.