Infectologista alerta que o mês de abril é "a pior época do ano" e que surtos como esse já estão acontecendo em vários bairros da cidade, como Ilha do Governador e Taquara

 

Moradores de um condomínio de casas na rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio de Janeiro, alertaram a prefeitura sobre vários casos de dengue e chikungunya na região. Segundo informações dos condôminos, 22 pessoas foram picadas por mosquitos Aedes aegypti contaminados com uma das duas doenças.

O G1 esteve no condomínio na última sexta-feira (22) e encontrou possíveis focos de criadouros do mosquito. Vasos de plantas com larvas, bromélias com água parada e muitos mosquitos foram encontrados pela reportagem (veja o vídeo acima).

A região é cercada pela Floresta da Tijuca e praticamente todas as 150 casas do local possuem jardim e piscina. No interior do condomínio também existem dois terrenos vazios e mais três casas em obra, o que dificulta o combate aos transmissores das doenças.

"Esse surto de chikungunya assustou bastante a comunidade do condomínio. O síndico e a esposa estão infectados. O número de casos relatados até o momento são mais de 20 pessoas infectadas, em 15 casas diferentes. Tudo começou na semana passada", contou Marcos Avila, morador do condomínio há mais de oito anos.

Além dos moradores, cinco funcionários do conjunto de casas também foram infectados recentemente. O porteiro Marcos Pereira disse que só ele já pegou dengue três vezes, nos 18 anos que trabalha no condomínio.

"A primeira vez que eu peguei foi em 2002, logo depois que eu comecei a trabalhar aqui. A segunda vez foi em 2016 e agora esse ano. Os sintomas começaram no meio da madrugada, quando eu comecei a sentir calafrios e dores no corpo. Levantei umas 5h da manhã e fui para o posto de saúde. O médico me examinou e disse que eu estava com dengue", disse Marcos, que precisou ficar em casa por cinco dias de repouso.

Infectologista alerta que surto já é realidade

Para a infectologista Otilia Lupi, doutora em medicina tropical, doenças febris agudas e dengue pela Fiocruz, esse surto de dengue teve início em dezembro do ano passado.

"Esses surtos acontecem por conta da volta da circulação de um sorotipo que não circulava desde 2002. Nós já estávamos esperando a volta desse sorotipo por conta do tempo que ele ficou afastado", disse Otilia.

De acordo com a doutora, casos como esse do Jardim Botânico estão acontecendo em vários bairros, como por exemplo a Ilha do Governador e a Taquara. "A pior época do ano é abril por conta das chuvas. O ciclo da dengue começa ao longo do verão e depois do período de chuvas ele aumenta muito. O ciclo só vai cair depois de maio e junho", alertou a infectologista.

A maior preocupação dos médicos diante de um período de grande evidência de dengue e chikungunya é que os casos desse ano sejam de dengue tipo 2. "Esse sorotipo tem algumas caraterísticas especiais. Nosso temor é que esse pode ser um pouco mais grave. Existe um temor pela volta do dengue dois", disse Otilia Lupi.

Em todo mundo foram identificados cinco tipos diferentes de dengue. No Brasil, os tipos de dengue 1, 2 e 3 já foram encontrados. O tipo 4 é mais comum na Costa Rica e na Venezuela. Já o tipo 5 foi identificado em 2007 na Malásia.

Todos os cinco tipos de dengue causam os mesmos sintomas, que incluem febre alta, dor de cabeça, dor no fundo dos olhos e cansaço extremo.

Os principais focos para a proliferação do mosquito aedes aegypti são locais que podem acumular água parada. Uma fêmea põe até 3 mil ovos durante seu ciclo reprodutivo.

Prefeitura marca vistoria na próxima segunda-feira

Os moradores do condomínio do Jardim Botânico tentaram entrar em contato com a Prefeitura do Rio desde a última semana, quando os primeiros casos começaram a acontecer.

Segundo Ana Carolina Lobo, residente do conjunto, o poder público marcou uma visita ao local no dia 19 de março para realizar uma inspeção. Porém os agentes públicos não apareceram na data marcada. "A gente tentou ligar novamente, mas não tivemos mais retorno. Tentamos também um contato com o superintendente da Zona Sul, Marcelo Maywald, mas também não conseguimos", disse Ana Carolina.

A reportagem do G1 recebeu a denúncia dos moradores na última quinta-feira (21) e no mesmo dia questionou o poder público municipal sobre o possível surto. A Secretaria Municipal de Saúde não respondeu às perguntas feitas sobre os 22 casos do Jardim Botânico.

Em nota, a Prefeitura informou apenas que "realiza o combate ao mosquito transmissor das arboviroses durante todo o ano, com intensificação das ações nos meses mais quentes e chuvosos... Este ano, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) já realizou mais de 1,2 milhão de visitas de inspeção para busca e eliminação de possíveis focos do aedes aegypti em toda a cidade. As equipes da Coordenação de Vigilância Ambiental em Saúde (CVAS) são distribuídas e alocadas em cada uma das regiões da cidade, incluindo na Zona Sul, de onde partem os agentes que atuam no Jardim Botânico. As ações no bairro, como em toda a cidade, são feitas periodicamente em atendimento a demandas feitas por meio do telefone 1746".

Mesmo sem dar uma resposta direta sobre o caso, agentes de saúde do município foram ao condomínio na manhã de sexta-feira (22) e marcaram uma vistoria para a próxima segunda (25).

"Houve um contato com a Prefeitura na semana passada. Eles ficaram de vir no dia 19. Vieram hoje (22). Eles entrevistaram diversos moradores nas casas onde as pessoas foram infectadas e programaram um bloqueio, como eles chamam, uma visita a cada casa para a próxima segunda. Vão fazer uma vistoria completa no condomínio para identificar focos do mosquito e tomar medidas pertinentes caso esses focos sejam identificados", comentou Marcos Avila, morador do condomínio.