PARA ONDE VAI A SUA TAXA DE CONDOMÍNIO?

 ESSA EMPRESA QUER LEVAR TECNOLOGIA À GESTÃO DOS PRÉDIOS

O mercado imobiliário não parece tão “cool” quando se trata de inovação e tecnologia. As novidades parecem estar todas concentradas nas fintechs do mercado financeiro, em apps de mobilidade ou em redes sociais e buscadores na internet.

Mas o curitibano Rafael Lauand, de 28 anos, pensa exatamente o contrário. Ele e o sócio Leonardo Boz lançaram no ano passado uma plataforma que promete levar inovação a uma área onde a papelada corre solta: a administração de condomínios.

A startup LAR, criada pela dupla de curitibanos, oferece um serviço de administração digital de condomínios, que promete reduzir os custos da gestão e permitir a proprietários e inquilinos saberem linha por linha os gastos dos condomínios onde moram.

Colegas no curso de Engenharia de Produção na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Boz e Lauand já conversavam sobre abrir um negócio juntos desde 2008.

Mas foi só depois de passagens por empresas de tecnologia - como a plataforma de transporte EasyTaxi, que Boz ajudou a expandir na América Latina - que eles resolveram levar a experiência em inovação para o mercado imobiliário.

A ideia surgiu quando a própria irmã de Lauand foi vítima de um problema por falta de transparência da administradora de seu condomínio. Os sócios perceberam que, em plena era digital, as administradoras de condomínios ainda tocavam o negócio com muita burocracia.

“Já estávamos sondando o mercado imobiliário, mas essa história foi mais um incentivo para pensarmos em soluções para a falta de transparência na gestão dos condomínios”, diz Lauand. "A maior parte da nossa vida já é digital. Porque o nosso condomínio ainda não é?", questiona.

Nos condomínios gerenciados pela LAR, os moradores têm acesso a um aplicativo que detalha os gastos de forma amigável, com visualização em gráficos e relatórios.

Em São Paulo, a estimativa é que só o que é arrecadado nos condomínios da capital paulista chegue a R$ 10 bilhões por ano. Um condomínio simples chega a sair por mais de R$ 700 em áreas centrais da cidade.

Mas para onde vai esse dinheiro? Quanto vai para reformas? Para onde foi o aumento aplicado pela administradora no último ano? Poucos moradores sabem.

“Tentamos dar ferramentas para o condômino saber o que está pagando, e até ser mais proativo no controle desses gastos. Tudo para ele ter uma experiência de moradia melhor”, diz.

Menos custos

Além de aumentar a transparência, a LAR também promete reduzir os custos da gestão dos condomínios em 10% logo nos primeiros três meses. A longo prazo, a empresa afirma que a economia pode chegar a até 40% ou 50%.

Isso acontece porque, segundo os fundadores, a LAR consegue gerenciar tudo com mais rapidez e menos papel e transporte envolvidos.

As contas, por exemplo, conseguem ser fechadas em dias, enquanto administradoras tradicionais podem levar mais de um mês.

Uma das fontes de receita do Site para Condomínio é a mensalidade cobrada dos prédios pela manutenção da plataforma 


No papel de administradora do condomínio, a LAR também pode atuar em reformas e outros serviços — e usar a tecnologia para torná-los mais baratos.

A negociação com os fornecedores, por exemplo, é feita como se os dez clientes fossem um só, de modo que os custos são reduzidos.

Lauand conta que um dos exemplos foi a criação, em um dos prédios clientes, de um jardim para que as crianças tivessem aulas de sustentabilidade oferecidas pelo condomínio. O projeto foi ideia da própria LAR, que percebeu que o prédio tinha um público mais familiar. Tudo isso sem aumentar o valor do condomínio, segundo a empresa.

A plataforma ainda traz outras comodidades: os clientes recebem uma notificação de quando o boleto de pagamento do condomínio está prestes a vencer, por exemplo, ou podem deixar pessoas pré-autorizadas a entrarem no prédio, fornecendo os dados do convidado ao porteiro via sistema.

Mercado promissor

O foco da LAR, por enquanto, é na cidade de São Paulo. Dos dez condomínios gerenciados pela empresa, só há um fora da capital paulista, em Curitiba (PR). Ao todo, eles movimentam R$ 1,7 milhão em cotas condominiais.

Não há números oficiais, mas dados do setor apontam que há pelo menos 20 mil condomínios só em São Paulo. Com a chamada “verticalização” da cidade e aumento do número de apartamentos por prédio, o setor tende a crescer.

A LAR quer estar pronta para atender a essa demanda. Até agora, os sócios já investiram R$ 80 mil do próprio bolso, e a expectativa é arrecadar investimentos externos e chegar a 100 condomínios atendidos.

O potencial desse mercado, que à primeira vista parece desinteressante, faz Lauand dar um conselho aos novos empreendedores na área de tecnologia: não focar apenas nos setores “da moda”.

“Acredito que um empreendedor precisa ter uma visão mais pragmática. No mercado imobiliário, por exemplo, quais são as empresas de tecnologia? Há poucas. E é aí que os novos negócios podem crescer”, diz. “A gente tem tantas ineficiências no Brasil que em quase todos os setores a tecnologia é bem-vinda.”