Como se proteger de incêndios como o que destruiu prédio de 24 andares em Londres
A maioria das mortes durante incêndios no interior de edificações costuma ocorrer não por queimaduras, mas sim pela inalação da fumaça.
Isso ocorre porque o fogo e as pessoas competem pelo mesmo recurso: o oxigênio. Mas a falta desse elemento nos incapacita rapidamente e, muitas vezes, não dá tempo para chegar a um lugar seguro.
À medida que as chamas se espalham pelo interior de um edifício, o fogo vai consumindo o oxigênio disponível e, além disso, a combustão incompleta dos materiais queimados libera gases tóxicos que nos envenenam.
É o que aconteceu no edifício londrino Grenfell, destruído por um incêndio na quarta-feira. O número de vítimas fatais da tragédia subiu para 30 nesta sexta, e há ainda cerca de 40 pessoas desaparecidas. Outros 24 feridos permanecem hospitalizados, metade deles em estado crítico.
A fumaça do incêndio contém dois fatores principais que causam danos: o monóxido de carbono, um gás tóxico que pode causar a morte quando inalado em grandes quantidades; e pequenas partículas em suspensão, tão pequenas que são invisíveis ao olho humano, mas que podem chegar aos pulmões e danificar as vias respiratórias.
A capacidade de percepção e de raciocínio, essenciais para se orientar e escapar rapidamente do fogo, diminui com a falta de oxigênio.
Ao ar livre, o nível de oxigênio normal é de 21%. Se o nível baixar para 17%, as pessoas já podem ter problemas de força e coordenação, segundo a Associação Nacional de Proteção contra o Fogo dos Estados Unidos.
Quando o nível está abaixo de 10%, as pessoas têm náuseas, vômitos e ficam inconscientes. E um nível de oxigênio entre 6% e 8% é fatal depois de 6 a 8 minutos. Com menos de 4%, ocorre uma parada respiratória ou cardíaca mortal.
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Além disso, o calor é um perigo em si: respirar gases muito quentes pode queimar as vias respiratórias e também causar a morte.
3 conselhos para minimizar a inalação de fumaça em caso de incêndio:
Agachar e engatinhar
O calor do fogo empurra as nuvens de fumaça para cima, deixando próximo ao solo um espaço de ar relativamente limpo.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Londres, se há fumaça, é melhor manter-se próximo ao solo e engatinhar para um lugar seguro para minimizar a inalação de gases tóxicos.
Cobrir a boca e o nariz
Se para escapar for preciso passar por um cômodo cheio de fumaça, usar uma toalha (de preferência molhada, mas apenas se houver tempo) sobre o nariz e a boca pode te ajudar a filtrar as partículas de fumaça para proteger os pulmões.
É melhor não respirar pela boca, já que o nariz consegue filtrar melhor as partículas de combustão suspensas no ar.
Quando a passagem está bloqueada
Se não for possível sair de uma casa ou edifício em chamas, o Corpo de Bombeiros de Londres recomenda ir a um cômodo seguro, de preferência longe do fogo, com uma janela que possa ser aberta; e tapar todas as possíveis entradas de fumaça - como os espaços debaixo das portas ou os dutos de ventilação - com toalhas, cobertores, almofadas ou roupas de cama, para se ganhar tempo até que cheguem os bombeiros.
Se houver uma torneira no local, também é recomendável molhar os tecidos.
Outros conselhos do para lidar com um incêndio
Antes de abrir uma porta
Ao escapar, antes de abrir uma porta, é preciso tocá-la com a mão. Se estiver quente, significa que provavelmente há chamas do outro lado, e essa porta fechada pode protegê-lo enquanto você busca uma passagem alternativa para escapar.
As portas corta-fogo mais comuns foram desenvolvidas para resistir a pelo menos 30 minutos.
Além disso, se for preciso abrir uma porta durante um incêndio, pense que às vezes a grande diferença de pressão nos dois lados pode levá-la a abrir com força.
Se o fogo atinge a roupa
Se você correr desesperadamente, as chamas vão queimar ainda mais. Segundo o Corpo de Bombeiros de Londres, o que se deve fazer é deitar no chão e começar a rolar, para dificultar que as chamas se propaguem.
Depois, se outra pessoa estiver no local, pode-se sufocar as chamas com um material pesado, como um abrigo ou um cobertor.
Escapar pela janela
"Se estiver no andar térreo ou no primeiro andar, escape pela janela", diz o corpo de bombeiros em seu site.
"Use materiais macios para amortecer a queda e desça o mais cuidadosamente possível antes de se deixar cair; não salte."
No Brasil, a orientação do corpo de bombeiros da Polícia Militar de São Paulo diz: "Não salte do prédio. Muitas pessoas morrem sem imaginar que o socorro pode chegar em poucos minutos".
A falta do oxigênio nos incapacita rapidamente o corpo, e muitas vezes não dá tempo para chegar a um lugar seguro
Ficar em casa
Em muitos edifícios londrinos, orienta-se aos moradores que permaneçam em casa caso o incêndio não afete o seu andar. Isso porque, em geral, a escada de emergência é compartilhada entre os moradores e os bombeiros.
A norma serviria para conter um incêndio em um apartamento e manter as escadas e corredores livres de fumaça por algum tempo, permitindo que as evacuações fossem feitas com cuidado após o fogo ser contido.
Segundo o engenheiro especializado em incêndios Ikhwan Razali, essa orientação só é correta caso o prédio tenha um bom sistema de extinção de fogo entre um andar e outro. "No caso (do Grenfell), o conselho me parecer ter sido errado", diz ele.
A corporação de SP recomenda: "Se um incêndio ocorrer em seu apartamento, saia imediatamente. Muitas pessoas morrem por não acreditarem que um incêndio pode se alastrar com rapidez", diz sua cartilha.
Apenas escadas
A corporação também afirma que todo edifício deve possuir um plano de emergência para abandono em caso de chamas e lembra que nunca se deve usar o elevador - sempre as escadas.
"Um incêndio razoável pode determinar o corte de energia para os elevadores. Feche todas as portas que ficarem atrás de você, assim retardará a propagação do fogo", prossegue a cartilha de SP.
Não subir
Recomenda-se ainda que, não sendo possível sair do prédio pelas escadas, a pessoa deve permanecer no andar em que está, aguardando a chegada dos bombeiros. Deve-se subir aos últimos andares apenas se o edifício oferecer condições de evacuação pelo alto ou se a situação exigir.